Título: Mais 4 afegãos morrem em protesto
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2006, Internacional, p. A14

Membros da força de paz internacional entraram ontem em choque com manifestantes afegãos que protestavam contra a publicação das caricaturas do profeta Maomé em Maymana, norte do Afeganistão. A polícia afegã abriu fogo contra os manifestantes que atacaram uma base controlada pelas forças norueguesas, matando quatro. Outras 18 pessoas ficaram feridas no confronto, 6 delas, soldados noruegueses.

O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, disse que a Noruega não retirará os cerca de 300 soldados que o país mantém no Afeganistão, apesar do ataque a sua base em Maymana. Stoltenberg disse que seus soldados lidaram bem com a situação, apesar do incidente entre a polícia afegã e os manifestantes. A Grã-Bretanha deslocou soldados para reforçar a segurança na cidade.

Com as mortes de ontem, subiu para 11 o número de vítimas da violência desatada pela publicação das caricaturas. Na segunda-feira, cinco pessoas morreram no Afeganistão e uma na Somália. Outra morte ocorreu domingo no Líbano.

A Noruega foi o primeiro país europeu a reproduzir as charges de Maomé, publicadas originalmente em setembro pelo jornal dinamarquês Jyllands-Posten.

O primeiro-ministro da Dinamarca, Anders Fogh Rasmussen, pediu ontem aos muçulmanos que evitem atos de violência, dizendo que o caso das caricaturas estava sendo explorado por radicais. "Precisamos resolver a questão por meio do diálogo, não da violência", disse em entrevista coletiva. Ele também condenou os ataques contra embaixadas dinamarquesas.

"Estamos enfrentando uma crescente crise global que pode escapar do controle dos governos e de outras autoridades", disse Rasmussen, acusando "radicais, extremistas e fanáticos" de atiçar o furor entre os muçulmanos para poder levar adiante os próprios projetos. Rasmussen recebeu um telefonema de apoio do presidente americano, George W. Bush, e o respaldo de países aliados da União Européia.

O jornal dinamarquês Jyllands-Posten desculpou-se pela publicação das caricaturas, mas muitos muçulmanos disseram que isso não era suficiente e pediram a punição do diário.

A onda de protestos se alastrou ontem para mais países, no Oriente Médio, Ásia e África.

No Irã, que rompeu relações comerciais com a Dinamarca, uma multidão atacou pelo segundo dia consecutivo com pedras e coquetéis molotov a embaixada dinamarquesa em Teerã. Um dos maiores jornais do Irã, o Hamshahri, lançou um concurso da melhor caricatura sobre o Holocausto, dizendo que queria explorar algo que fosse intocável para o Ocidente, como o profeta Maomé é para os muçulmanos. Segundo o diário, seu concurso é um teste para os princípios de liberdade de expressão do Ocidente. "Será que o Ocidente estende sua liberdade de expressão aos crimes cometidos pelos EUA e Israel, ou para um acontecimento como o Holocausto? Ou sua liberdade é apenas para insultar o que é sagrado?", perguntou o Hamshahri num artigo.

Na Índia, a polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo contra centenas de manifestantes que protestavam em Srinagar, na Caxemira. Seis manifestantes e dois policiais ficaram feridos. No vizinho Paquistão, mais de 5 mil pessoas também protestaram na cidade de Peshawar (noroeste).

Na cidade palestina de Rafah, na Cisjordânia, mascarados atiraram numa fotografia do primeiro-ministro dinamarquês e queimaram uma bandeira da Dinamarca. Na cidade de Belém, centenas de palestinos, convocados pelo grupo Hamas, protestaram contra a publicação das charges na Dinamarca e sua reprodução por jornais de vários países europeus. Protestos também foram realizados no Egito, Níger, Nigéria e Filipinas.

O governo dinamarquês advertiu seus cidadãos a deixarem a Indonésia como medida de precaução. A Indonésia, com 242 milhões de habitantes, é o maior país muçulmano do mundo. A Dinamarca também está preocupada com seus 500 soldados no Iraque, pois militantes se disseram dispostos a seqüestrar e executar os dinamarqueses que encontrarem.

A União Européia intensificou a pressão para que os Estados árabes controlem os protestos, lembrando que os 19 países do Oriente Médio têm obrigação de proteger as missões européias.