Título: Líder iraniano capitaliza oposição
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Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2006, Internacional, p. A14

Desde que assumiu a presidência do Irã seis meses atrás, Mahmud Ahmadinejad é assunto de piadas em celulares. Numa delas, o presidente se penteia em frente do espelho e diz: "Fios masculinos para a esquerda, femininos para a direita."

Mas isso é apenas parte da imagem. Por trás das arborizadas colinas do norte da cidade, Ahmadinejad parece solidificar seu apoio. Ele viajou pelo país, prometeu auxílio econômico nas regiões mais pobres e manteve o figurino humilde e a linguagem cheia de religiosidade que atraíram seus eleitores.

"Ele leva vida simples", disse Zabiollah Baderlou, de 18 anos, que trabalha numa padaria. "A TV mostrou sua casa. É muito simples. Ele está fazendo esses esforços para o povo e tudo que quer é a dignidade do Irã."

Mas acima de tudo, apesar dos poderes limitados da presidência do Irã, Ahmadinejad, um ultraconservador, ex-membro de milícia, usou a oposição ocidental ao programa nuclear iraniano para unificar e dar uma direção ao país. Essa dinâmica levou até os opositores a lhe dar espaço. Converse com os iranianos em qualquer rua e eles provavelmente exigirão que o Irã leve adiante seu programa de energia nuclear, um sentimento que serviu para o lançamento da política explosiva de Ahmadinejad.

"Dá para sentir que o Irã, sob a atual liderança, está procurando se isolar e caminhar sozinho", disse um diplomata ocidental em Teerã. "Os iranianos querem mostrar que o caminho deles é o certo e o dos outros, errado."

O novo presidente começou com um estilo tão agressivo que muitos funcionários ficaram irritados. Mas quando o ocidente não conseguiu impedir o Irã de audaciosamente reiniciar seu programa nuclear, nem puni-lo por isso, alguns oponentes relutantemente aceitaram que Ahmadinejad estava correto e eles errados.

Depois de anos com os reformistas controlando o governo, Ahmadinejad faz exatamente o que prometeu, ressuscitando as prioridades de aiatolá Ruhollah Khomeini, castigando o Ocidente sempre que pode e lutando para forjar uma identidade nacional antiocidental enquanto estabelece a influência revolucionária do Irã em todo o mundo muçulmano.