Título: Entre empresários, polêmica
Autor: Fábio Graner e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2006, Economia & Negócios, p. B8

A desoneração dos investimentos estrangeiros está causando polêmica. O setor financeiro aplaude a iniciativa, afirmando que ela vai alongar o perfil da dívida pública e poderá reduzir seu custo no médio prazo e acelerar a melhora da nota de risco do Brasil. Já integrantes da indústria têm ressalvas: alertam para a potencial enxurrada de dólares no País, o que valorizaria ainda mais o real.

Segundo o Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), a medida vai aumentar a competição no mercado de renda fixa, contribuindo para financiar as empresas brasileiras - isto é, a entrada de investimento estrangeiro para financiar a dívida pública pode abrir espaço para um financiamento mais abundante e mais barato do setor privado. O instituto também acredita que a medida ajudará o País a obter o "grau de investimento" até 2008.

Já o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) é contra. "A medida aumentou a ansiedade do empresariado, pois vai elevar a entrada de dólares no País", reclama o diretor do Departamento de Economia do Ciesp, Boris Tabacof. Ele diz que o real já é vítima de um movimento de especulação e, ao mesmo tempo, existe um "tsunami" de entrada de dólares com as exportações.

Segundo o diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, o temor dos empresários da entidade é o impacto que a operação terá na valorização do real. A Fiesp ainda não sabe como a operação será administrada sem produzir impacto no câmbio. Por isso, num primeiro momento, a Fiesp prefere não se posicionar a favor.

Nestor de Castro Neto, presidente da Voith Paper, também está preocupado. "Essa proposta vai levar a mais valorização do real porque o diferencial de juros para o estrangeiro vai ficar ainda mais atraente, com a isenção de impostos."

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), afirma não conhecer detalhes do projeto, mas também teme a maior valorização do real. "Com esse incentivo, esperamos mais ingresso de dólares, o que vai empurrar mais para baixo a moeda americana."