Título: 'É segurar maremoto com um muro'
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

Para Ricardo Amorim, do Banco WestLB, o BC não tem poder suficiente para conter a alta do real ante o dólar

Intervir no mercado cambial neste momento para brecar a queda do dólar é como "tentar conter um maremoto construindo um murinho no meio do mar", segundo definição do economista Ricardo Amorim, chefe de Pesquisas de América Latina do Banco WestLB em Nova York. De acordo com Amorim, o Banco Central (BC) não tem poder suficiente para contrabalançar o enorme fluxo de recursos proveniente das exportações recordes e dos investimentos financeiros. "Não adianta tentar segurar o maremoto", observou.

"Não sei se o BC tem como objetivo conter a valorização do real com as intervenções que vem fazendo (compra de dólares e venda de swap cambial reverso) ou está apenas aumentando o nível de reservas", diz Amorim. "Se estiver tentando deter a queda do dólar, não vai conseguir." Para ele, o dólar deve chegar a R$ 2 no semestre.

Grande parte do mercado não acha necessário intervir para brecar a queda do dólar e o câmbio valorizado não trará problemas. Mas a indústria acha que o dólar baixo vai afetar o desempenho das exportações e é necessário adotar medidas mais eficientes para deter a alta do real.

"Exportadores vêm dizendo, há mais de dois anos, que a queda do dólar vai prejudicar a balança comercial, mas isso não aconteceu", diz Amorim. "Aliás, acho que o superávit comercial deste ano vai ser ainda maior que o do ano passado."

Segundo ele, o fato de países que competem com o Brasil, como Austrália e Nova Zelândia, também terem sofrido valorizações evita perda na competitividade brasileira. Para Maristella Ansanelli, economista-chefe do Banco Fibra, qualquer coisa que o BC fizer além do que já está fazendo será "artificial demais".

Não é o que acha Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Sem ajuda de uma taxa de juros bem mais baixa, fica difícil evitar que o dólar caia mais." Segundo ele, se os juros não forem reduzidos, o dólar vai para os R$ 2, o que vai prejudicar as exportações.

Boris Tabacof, diretor do do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), é mais radical. "Sei que para muitos isso é uma heresia, mas são necessárias medidas para controlar a entrada de capitais estrangeiros."