Título: Consignado muda a rede bancária
Autor: Gustavo Freire
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2006, Economia & Negócios, p. B8

Em vez de agências, postos dentro de pontos comerciais caçam clientes para crédito com desconto em folha

Na busca por mais clientes para empréstimos consignados, com desconto em folha, os bancos resolveram ampliar a rede de atendimento. Mas, em vez de abrir agências, adotaram uma opção mais econômica: os correspondentes bancários. São estabelecimentos comerciais, como farmácias e lotéricas, que uma vez credenciados prestam a maior parte dos serviços de uma agência. Neles, é possível movimentar conta corrente, poupança e pagar contas.

"Bancos de pequeno porte, com poucas agências, têm conseguido capilarizar o crédito consignado por meio dos correspondentes", diz o presidente da Austin Rating, Erivelto Rodrigues. Os casos típicos são os bancos Cruzeiro do Sul, Bonsucesso e Lemon Bank. A estratégia usada por estes bancos foi usar a figura dos promotores de venda. "Eles originam o crédito consignado em visitas diretas aos funcionários do serviço público", explica Rodrigues. A operação, em seguida, é contratada diretamente nos bancos.

O superintendente de projetos especiais da Febraban, Jorge Higashino, questiona se os promotores de venda podem ser considerados correspondentes bancários. "Considero correspondentes apenas os pontos de atendimento onde o cliente pode fazer pagamento de contas e movimentar recursos da conta corrente e da poupança."

O diretor de Normas do Banco Central, Sérgio Darcy, concorda com a avaliação do presidente da Austin Rating. "Os promotores de venda são correspondentes bancários." Além deles, o dirigente do BC também considera correspondentes os pontos de atendimento instalados em grandes magazines.

O secretário-geral da Confederação Nacional dos Bancários (CNB), Carlos Cordeiro, vê aspectos negativos na expansão dos correspondentes bancários. "Os bancos têm usado os correspondentes como forma de tirar clientes de baixa renda das agências e elitizar o atendimento." O argumento é rebatido pelo presidente da Austin Rating. "Hoje, a maior parte das transações é feita por meio eletrônico. Não há elitização."

O representante da Febraban lembra que os correspondentes podem ser usados por todos. "Muitas vezes clientes mais ricos não querem se locomover até uma agência e preferem pagar contas em um correspondente próximo."

O diretor do BC admite, no entanto, que o aumento dos correspondentes afeta o mercado de trabalho dos bancários. "Geralmente quem trabalha no correspondente ganha salários mais baixos e enfrenta jornada maior que a dos bancários."

O BC tem feito estudos jurídicos sobre a viabilidade de permitir a abertura das agências bancárias aos sábados. "Os resultados preliminares indicam que isto será possível desde que haja acordo entre bancários e o banco." Aos sábados, as agências abririam por tempo menor do que nos dias úteis.

Já os bancários querem ampliar o horário de atendimento. "Estamos propondo a criação de dois turnos", afirma o secretário-geral da CNB. Os bancos teriam de contratar mais bancários e as agências funcionariam entre 9 e 17 horas. Ex-sindicalista, o gerente da unidade de acesso a serviços financeiros do Sebrae, Carlos Alberto dos Santos, discorda. "Não podemos ficar contra os correspondentes". *