Título: Prefeito ataca populismo cambial
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Nacional, p. A4

O prefeito José Serra, um dos pré-candidatos do PSDB à Presidência, acusou ontem o governo federal de praticar o "populismo cambial", que seria uma mistura de erros de política econômica com interesses eleitoreiros. De acordo com o prefeito, o resultado dessa estratégia tem sido uma sobrevalorização exagerada do real em relação ao dólar, que poderá criar problemas no futuro.

"Está havendo um populismo cambial exacerbado no Brasil", disse ele. A forte valorização do real, prosseguiu, tende a refletir-se nos níveis de emprego e a estimular a ida de turistas aos Estados Unidos. "Há um abuso", acrescentou.

Serra citou como outro exemplo de "atuação imprevidente" a decisão do governo de isentar do Imposto de Renda investimentos estrangeiros em títulos públicos. Em sua avaliação, a medida tende a agravar ainda mais o atual cenário. "A única coisa que vai acontecer é uma sobrevalorização maior da moeda e uma saída de capitais do Brasil - para voltarem com dólar e terem a isenção." O ideal, para Serra, seria que o governo desonerasse todos os investimentos em títulos públicos, independentemente de sua origem, o que contribuiria para uma redução da taxa de juros.

O prefeito comentou que ele próprio chegou a propor tal medida quando era senador. Questionado se a desoneração proposta pelo governo teria interesses eleitoreiros, Serra respondeu: "(A medida) é fruto de erros de política econômica e tem também uma vantagem que se acredita ser eleitoral. São duas coisas: em uma das pernas, os erros e, na outra, o oportunismo eleitoral."

O prefeito esclareceu que não se trata de defender o intervencionismo do Estado no câmbio, mas ressaltou a necessidade de buscar meios de alterar o atual cenário cambial. "O câmbio a R$ 1,90 ou a R$ 2 é uma irresponsabilidade histórica e nós vamos pagar um preço altíssimo no futuro", comentou.

O prefeito inaugurou uma unidade do sistema de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e, em seguida, pintou muros em que havia propagandas irregulares na zona leste. Ele evitou falar de eleições. Indagado se está decidido a aceitar a candidatura presidencial, caso o PSDB decida convocá-lo, desconversou: "A única coisa sobre a qual estou decidido é a dar um empurrão importante na limpeza da cidade." Mas deu a entender que está atento ao assunto: "Estou ouvindo para saber o que é que estão pensando." Em seguida atenuou: "Não estou muito esquentado com isso (a campanha)."