Título: Disputa entre Serra e Alckmin racha PSDB, que pode retardar escolha
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Nacional, p. A4

Assustados com a fricção interna provocada pela disputa entre os grupos do governador Geraldo Alckmin e do prefeito José Serra pela indicação do partido à Presidência da República, os tucanos já começam a pensar em adiar a escolha do candidato por algum tempo para soldar as fissuras internas que estão surgindo. Empenhado em amenizar o clima de enfrentamento, o triunvirato que orienta a escolha do candidato tucano almoça hoje com o governador Geraldo Alckmin.

Sentindo a temperatura elevada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos integrantes do triunvirato, disse ontem que o alto comando é "facilitador" e não "decisor": "Se não formos felizes em criar uma situação favorável ao consenso, o partido tem de ser ouvido mais amplamente", disse, ressalvando, no entanto, que não se referia à realização de prévias, que antes eram exigidas pelo grupo de Alckmin.

O agravamento do impasse tucano começou no fim de semana, quando Alckmin intuiu que o encaminhamento do triunvirato pendia para Serra e acirrou a disputa, sinalizando que vai brigar encarniçadamente pela candidatura. No domingo, o triunvirato foi criticado pelo governador Marconi Perillo, de Goiás, que ontem repetiu a dose: "O que não pode acontecer é alguns falando em nome dos outros", disse ele no Rio.

Em seu mutismo de candidato potencial, Serra cumpriu ontem um gesto eloqüente: soube que Perillo seria homenageado pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, pousou no Aeroporto Santos Dumont e, acompanhado pelo líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, foi encorpar a homenagem. Serristas avaliavam, à noite, que o gesto sensibilizaria Perillo.

Hoje, o dia de candidato de Alckmin começa com um café da manhã com a bancada estadual de São Paulo para receber elogios e apoios; depois do almoço com o triunvirato tucano, ele embarca para Brasília, onde, à noite, tem um jantar com as bancadas do PSDB na Câmara e no Senado, numa forma de evidenciar a maioria que tem entre os deputados, atestada por pesquisa do Estado.

Ontem, o governador paulista voltou a balizar a ação do triunvirato, declarando que a escolha do candidato à Presidência não pode ficar restrita à cúpula do partido. "Eles (o triunvirato) não vão decidir, eles vão apenas interpretar o sentimento partidário", afirmou Alckmin, repetindo as palavras que Fernando Henrique dissera pouco antes. O governador admitiu que "ouvir, dialogar e conversar são tarefas da direção".

MAR REVOLTO

Todos esses movimentos bruscos foram demais para a nave tucana, acostumada a navegar em águas mais plácidas. Os arrulhos desencontrados dos dois grupos, com o triunvirato no meio, acenderam ontem muitas luzes amarelas. "Precisamos de tempo para arrumar as coisas", disse o deputado Alberto Goldman (SP), um serrista que tem boas relações com Alckmin.

"As próximas duas semanas, com o carnaval no meio, vão ajudar a recompor as conversas", amenizou o vereador José Aníbal, alckmista. O líder na Câmara, Jutahy Júnior (BA), serrista, disse que todos têm de confiar na coordenação do presidente do partido, Tasso Jereissati. Na opinião de Jutahy, o processo de consulta deve ser ampliado pela direção do partido.

Esse possível adiamento contraria o cronograma estabelecido sexta-feira pelo triunvirato, depois de longa reunião no Rio de Janeiro para examinar pesquisas internas do partido. Na ocasião, o alto comando estabeleceu o anúncio do candidato para logo depois do carnaval.