Título: Dimas cobrava pedágio, apura PF
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Nacional, p. A7

De posse de grande volume de dados recolhidos com a quebra de sigilos fiscal e telefônico, determinada pela Justiça Federal do Rio, a Polícia Federal está concluindo uma devassa sobre os últimos oito anos do empresário Dimas Toledo como diretor de Furnas. As primeiras análises indicam que Dimas operava um esquema de cobrança de "pedágio" junto a construtoras e empresas que prestavam serviços à estatal. Parte do dinheiro era usada para financiar campanhas eleitorais com caixa 2.

O esquema, no qual estariam envolvidos três filhos de Dimas, consistia em induzir as empresas a contratarem uma consultoria de fachada junto a escritórios indicados por ele. Era a condição para que as empresas firmassem contratos com Furnas. Entre as achacadas pelo ex-diretor, conforme apurou a PF, estaria a JP Engenharia, forçada a pagar R$ 700 mil por uma consultoria para obter contrato de cerca de R$ 30 milhões.

Dimas é investigado por PF, CPI dos Correios e Ministério Público como suspeito de ser um dos abastecedores do mensalão e de ter operado esquema de caixa 2 para vários partidos, inclusive a cúpula do PSDB, em eleições anteriores. Os filhos do ex-diretor (dois homens e uma mulher) serão chamados para explicar se os contratos que tinham com Furnas eram de fachada, o que configuraria crime. Caso tenham sido favorecidos com contratos verdadeiros, fica configurado delito de tráfico de influência do pai.

O lobista mineiro Nilton Monteiro, um dos que estão enviando documentos sobre o suposto esquema de Dimas à PF, informou em depoimento que foi contratado pelo então diretor da JP Engenharia Reinaldo Conrad para abrir as portas de Furnas e reduzir ao máximo o "pedágio" que teria de pagar por contratos. Ele alega que durante algum tempo trabalhou em sintonia com Dimas, com quem rompeu recentemente.

Monteiro também entregou à PF uma lista com 156 nomes de políticos que teriam recebido doações de campanha com recursos de caixa 2 levantados por Dimas junto a empreiteiras e fornecedores da estatal. A autenticidade da lista ainda não foi confirmada e, até agora, só um dos listados, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) confessou ter recebido R$ 75 mil de Dimas. Todos os demais, ligados a PTB, PFL, PP, PL e PSDB, negaram envolvimento.

Os dados da investigação serão cruzados, mais adiante, com a auditoria que a Controladoria-Geral da União realiza em todos os contratos de Furnas desde 1998. A suspeita é de que essas empresas superfaturavam seus contratos e repassavam uma parte - R$ 36,5 milhões só na campanha de 2002 - para financiar candidaturas. O mesmo esquema teria sido usado, no atual governo, em favor de políticos e partidos da base aliada.

Após o carnaval, a PF enviará ao Supremo Tribunal Federal (STF) o inquérito do mensalão e não fará menção à lista de Furnas, que está sob a competência da Justiça Federal do Rio.

Caso as investigações confirmem que Dimas operava esquema de caixa 2 em Furnas, a partir de recursos desviados da estatal, os demais integrantes da lista serão convocados a depor.