Título: FUB recebe mais verbas e tem menos atribuições
Autor: Lígia Formenti
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Nacional, p. A10

Além do tratamento diferenciado no momento da apresentar suas contas, a Fundação Universidade de Brasília (FUB) se destaca dos outros convênios pelo valor recebido. Para cuidar de cada ianomâmi, ela recebe uma média diária de R$ 5,50. A média per capita diária de outros convênios que também são encarregados de prestar assistência a ianomâmis fica entre R$ 1,98 e R$ 3,33.

Mesmo significativos, os recursos concedidos à Fundação Universidade de Brasília trouxeram benefícios duvidosos para a população ianomâmi atendida pelo governo. No período da administração da FUB, o número de casos de malária explodiu. Na semana passada, uma força-tarefa da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) foi enviada para a região, para tentar controlar a situação.

Mas Alexandre Lima, da FUB, exibe outros números para tentar mostrar o sucesso de seu trabalho. Um deles é o da redução da mortalidade infantil: o índice baixou de 64,9 para 51,7 por mil nascidos vivos.

TRANSPORTE

O contrato com a FUB foi firmado em 2004. Até então, atuava na região uma organização não-governamental, a Urihi. A forma de administração, no entanto, era distinta. A ONG recebia uma verba para realizar todo o serviço, desde contratação de pessoal e meios de transporte até compra de medicamentos. Para um ano de trabalho, de julho de 2003 a julho de 2004, a Urihi recebeu R$ 8,4 milhões.

Ao assumir, a FUB recebeu menos atribuições. Ficou responsável apenas por prestação de serviços e contratação de pessoal, mas para isso recebeu bem mais recursos. A compra dos remédios e a contratação de transportes ficou por conta da Funasa. E foi justamente nesse período que o preço da hora-vôo disparou. Até 2003, quando a ONG contratava o serviço de avião, a hora-vôo na região custava cerca de R$ 760. Quando a Funasa assumiu, o valor aumentou para R$ 1.300.

A Procuradoria-Geral da República em Roraima está analisando esses contratos. Uma das denúncias é a de que a empresa ganhadora da licitação, por não ter condições de cumprir a tarefa, acaba repassando os vôos para outras empresas da região, que também participaram da licitação.