Título: Nada deterá programa, adverte Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Internacional, p. A13

O Irã advertiu ontem que continuará com seu programa nuclear ainda que aceite a oferta do governo russo de usar urânio enriquecido na Rússia em usinas atômicas iranianas. "Mesmo se chegarmos a um acordo (sobre a proposta russa), vamos continuar com nossa cooperação a partir do ponto em que estamos. Ou seja, nosso departamento de pesquisa continuará ativo", disse o ministro iraniano das Relações Exteriores, Manuchehr Mottaki, numa entrevista concedida em Bruxelas, ao mesmo tempo em que uma delegação iraniana negociava com políticos russos.

A declaração de Mottaki lançou uma nuvem de pessimismo nas negociações entre Irã e Rússia. Embora oficialmente as conversações se desenvolvam sem condições prévias, o Kremlin considera "importante" que o Irã restabeleça uma moratória nuclear.

"Esperamos que a solução se dê dentro das normas estabelecidas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, entidade da ONU que fiscaliza a proliferação nuclear no planeta)", disse o chanceler russo, Serguei Lavrov.

O Irã alega insistentemente que necessita manter seu programa nuclear para superar a escassez de energia elétrica que impede o crescimento do país. Com o objetivo de superar o impasse entre o regime iraniano e a comunidade internacional - que desconfia das intenções pacíficas do programa nuclear do Irã -, a Rússia se dispôs a fornecer o combustível atômico. Com isso, esperava que o Irã suspendesse seu programa.

As negociações de ontem em Moscou se encerraram sem que as partes tivessem chegado a um acordo. Mas a delegação iraniana concordou em seguir com as discussões hoje.

Os EUA e os três países da União Européia - Alemanha, França e Grã-Bretanha, que fracassaram no esforço de convencer o Irã a abandonar o programa - receberam bem a oferta russa. Mas, reservadamente, diplomatas ocidentais são pessimistas quanto às prossibilidades de sucesso nas negociações.

"Não queremos isolar o Irã, mas esperamos que os iranianos não escolham se isolar", declarou a encarregada de Relações Exteriores da UE, Benita Ferrero-Waldner, que ontem se reuniu com Mottaki.

A AIEA levou o caso do Irã ao Conselho de Segurança da ONU, o organismo das Nações Unidas que tem a prerrogativa de impor sanções políticas e econômicas ao país. O conselho aguarda agora um relatório que o encarregado da AIEA, Mohamed el-Baradei, deve encaminhar no dia 6.