Título: Vírus evolui e fica mais letal e resistente
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Vida&, p. A16

A Organização Mundial da Saúde (OMS) admitiu ontem que mutações do vírus H5N1, causador da gripe aviária, estão tornando-o mais letal entre as aves e mais resistente ao meio. Mas as mutações ainda não fizeram o vírus mais perigoso para seres humanos.

O laboratório britânico de Weybridge, responsável pela confirmação oficial dos casos de gripe aviária, informou ontem que o vírus que matou aves na Bulgária há dez dias é mesmo o H5N1. A Bósnia anunciou o primeiro caso de gripe aviária, mas falta a confirmação. Na Nigéria, surgiram três novos focos da doença.

Os cientistas ainda estão tateando na investigação de quais alterações genéticas precisam ocorrer antes que o H5N1 se torne transmissível entre seres humanos. A falta de precedentes e referências torna vital a vigilância rigorosa e a investigação de todo e qualquer caso.

"Não há evidência até o momento, a partir de quaisquer dos focos detectados, de que o vírus incrementou sua capacidade de disseminar-se facilmente de uma pessoa para outra", afirma a OMS.

PERPLEXIDADE

Mas pesquisas recentes já demonstraram que o H5N1 ficou gradativamente mais virulento em aves e ratos de laboratório e ampliou seu ciclo de dois para seis dias de sobrevivência sob temperaturas amenas.

Na medida em que surgem casos quase simultâneos de gripe aviária em locais tão distantes quanto Nigéria, França e Índia, os cientistas não disfarçam a perplexidade, pois não se previa que a disseminação por aves migratórias fosse tão acelerada. "Sabe-se que o alcance das rotas (das aves migratórias) é muito amplo, mas o caso do pato encontrado na França é muito estranho", diz Samuel Jutzi, diretor da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Uma explicação possível para esse caso seria que aves vindas da Rússia ou Ucrânia, ao invés de parar no Mar Negro em dezembro, tenha seguido muito mais rumo ao oeste, talvez por conta das baixíssimas temperaturas em suas paradas habituais.

Os dois focos detectados na Índia também são muito distantes um do outro. Em Nandurbar, no Estado de Maharashtra, a gripe dizimou 50 mil aves de criação em poucos dias, enquanto em Uttar Pradesh, o Estado mais populoso do país, 1,4 mil aves morreram. Sexta maior produtora avícola do mundo, a Índia anunciou sábado que pretende sacrificar pelo menos 500 mil aves. Dezenas de pessoas foram encaminhadas para testes clínicos anteontem. A morte de um avicultor de 27 anos chegou a ser atribuída à gripe aviária, mas o governo anunciou domingo que "testes preliminares" tinham dado negativo.