Título: Fundo financiará novas empresas
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

Programa do governo federal deverá captar US$ 500 milhões para incentivo a empresas de tecnologia

O governo está colocando na rua um programa para financiar empresas nascentes, sobretudo as da área de tecnologia. O objetivo é permitir que futuras Microsofts e Apples - que hoje funcionam em fundos de quintal, centros de pesquisa e universidades - possam ter como sócios investidores de peso, como bancos e fundos de pensão, para desenvolver seu potencial. "É um programa para fazer com que boas idéias cheguem ao mercado e criem valor para a sociedade", disse ao Estado o gerente-geral da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Edmundo Machado de Oliveira. Países emergentes como China e Índia têm políticas agressivas com esse mesmo objetivo.

O primeiro passo para atrair mais recursos às empresas nascentes foi dado semana passada. A Medida Provisória (MP) 281 reduziu a zero a tributação sobre os ganhos que investidores estrangeiros têm em suas aplicações em fundos especializados em financiar as empresas nascentes, chamados de venture capital. Até então, os ganhos eram tributados em 15%, sendo pouco atraentes, principalmente se comparados com fundos de ações (no qual os ganhos para o investidor estrangeiro são isentos do IR).

O mercado de venture capital movimentou US$ 125 bilhões no ano passado, dos quais de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões foram para a China e US$ 2 bilhões para a Índia. O Brasil recebeu menos de US$ 100 milhões. "É preciso colocar o Brasil no radar do mundo", disse Oliveira. "Nos seminários internacionais sobre venture capital só se fala em Índia e China."

O programa brasileiro para incentivar as empresas nascentes ganhará visibilidade internacional em março, quando a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizará sua conferência internacional em Brasília. O País sediará o evento pela primeira vez, após negociação conduzida pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan.

Um dos temas a ser debatido será o financiamento de pequenas e médias empresas por meio de aporte de capital de risco, como é o caso dos fundos de venture capital.

No seminário, o governo brasileiro anunciará a criação de um fundo de US$ 500 milhões que vai aplicar recursos em fundos de venture capital e fundos de equity (semelhantes aos de venture capital, com a diferença de que eles aplicam em empresas de maior porte). Será um "fundo de fundos", informou Oliveira.

O "fundo de fundos" será importante para atrair mais investimentos para o País, pois terá gestores com credibilidade internacional. "É muito custoso para um grande fundo de pensão pesquisar em que fundos e empresas nascentes vai aplicar", explicou. "Esse investidor se sentirá mais seguro em aplicar no País por intermédio do fundo dos fundos, porque ele vai seguir padrões internacionais de gestão."

Dos US$ 500 milhões, o governo federal entrará com US$ 100 milhões em recursos do Ministério de Ciência e Tecnologia. Outros US$ 100 milhões serão buscados junto aos fundos de pensão brasileiros e os US$ 250 milhões restantes virão de investidores estrangeiros. Os valores serão aportados ao longo de três anos.

Com a estrutura para receber investimentos pronta, restará "vender" o Brasil aos investidores estrangeiros. Em junho, será realizado um "Brazil Day" em Nova York e outro em São Francisco. "Vamos mostrar que é possível fazer bom dinheiro de longo prazo no mundo da economia real", disse Oliveira.