Título: 'Queria que Deus o levasse. Ele está vivendo sem vida'
Autor: Viviane Kulczynski
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2006, Vida&, p. A11

"Ele não mexe um dedo, não come chocolate, não joga bola." Um longo suspiro, e Jeson de Oliveira, pai de Jhéck, revela um desejo: "Queria que Deus o levasse". Para esse funcionário de uma empresa de calçados em Franca, nada se compara à dor de ver o filho preso a uma cama hospitalar, sem perspectivas de recuperação.

Em setembro do ano passado, Oliveira levou seu desespero ao extremo. Quis desligar os aparelhos que mantinham o garoto vivo. Quis ir à Justiça a fim de obter autorização para a eutanásia. Em uma semana, desistiu da ação. Hoje ele revela que a hipótese ainda não está descartada. "Falaram muito, fui agredido. Mas eu é que sei o drama de vê-lo 'viver sem vida'." A seguir trechos da entrevista ao Estado:

Como o sr. recebeu a notícia de que Jhéck voltou para casa?

Isso só é bom para a mãe. É egoísmo dela. Eu fui contra.

Quando foi a última vez que esteve com seu filho?

Há uns nove meses. Hoje eu não conseguiria olhar para ele. Vi uma foto, ele está inchado, cercado de aparelhos. Olhei a foto e chorei. Não fui trabalhar. Dói muito ver um filho preso a uma cama. O olhar dele não tem vida. Ele não mexe um dedo, não come chocolate, não joga bola.

Ainda acha que a eutanásia é a solução?

Queria que Deus o levasse. Eu o amo demais, mas as condições são ruins. Não tenho medo do que as pessoas dizem. Sou cobrado todo dia por ter falado que preferia que ele morresse.

O sr. desistiu da eutanásia?

Não é justo uma pessoa não poder tomar decisões sozinha. Se alguém for contra a minha posição, que se coloque no lugar do Jhéck. Que passe 24 horas sem se mexer, vivendo sem vida.

Então o sr. pretende ir à Justiça?

Eu desisti (em setembro) por causa de uma carta que a mãe do Jhéck me mandou implorando para eu não fazer isso. Então, eu preferi deixá-la curtir o filho mais um tempo. Mas eu guardo toda a documentação. Tenho uma pasta com 1.800 páginas de declarações de médicos. Não descarto a hipótese de ir à Justiça pedir autorização para a eutanásia.

O sr. acredita em Deus?

Já tive várias religiões. Nenhuma me deu as respostas adequadas para saber lidar com isso.