Título: Chávez estuda reeleições infinitas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/02/2006, Internacional, p. A10

Presidente diz que pode pedir reforma da Constituição se oposição se retirar das eleições de dezembro

CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, declarou ontem que se a oposição não apresentar candidatos às eleições presidenciais de dezembro, ele poderia convocar um referendo que lhe permita disputar novas reeleições. "Se os EUA tentam obter uma condenação mundial contra a Venezuela, deslegitimar o governo com a história de que em dezembro não houve oposição nas eleições, eu poderia considerar submeter uma reforma constitucional a um referendo", disse Chávez em seu programa dominical Aló Presidente, transmitido desde a cidade de Puerto Ordaz, cerca de 500 quilômetros ao sul de Caracas.

Atualmente, a Constituição venezuelana permite apenas uma reeleição consecutiva, mas a reforma levantaria essa restrição e abriria caminho para reeleições sucessivas. "Talvez eu deixe a presidência em 2013, senão em seis anos mais, 2019. E depois seis anos mais, 2025. E depois seis mais, 2031", ameaçou.

Ele insistiu que esta é uma idéia que está estudando para dezembro, caso a oposição queira fazer novamente com que todos se retirem das eleições, alegando que não há condições.

O presidente venezuelano disse que seu rival nas eleições de dezembro é o governo dos EUA que uma vez mais, "para não reconhecer minha vitória, provocará violência, morte e desestabilização para justificar uma intervenção internacional".

Segundo ele, os EUA buscarão lançar um candidato com força financeira e na mídia para fazer parecer, em novembro, que suas possibilidades de triunfo estão emparelhadas com as de Chávez. Se isso ocorrer, o passo seguinte, segundo Chávez, seria o de denunciar fraude quando os resultados eleitorais mostrarem sua "contundente vitória".

Chávez lembrou que a última pesquisa, divulgada esta semana e realizada por uma empresa americana, indica que 66% dos venezuelanos pretendem votar por sua reeleição.

O segundo cenário seria colocado em andamento somente no caso de nenhum opositor obtenha apoio popular suficiente para apresentar-se como um adversário de peso diante do presidente.

Nesse caso, segundo Chávez, Washington ordenaria a retirada da oposição para deslegitimar logo o presidente, com o argumento de que as eleições não foram democráticas, pois não houve adversários. "Se eles fizerem isso, posso responder submetendo a reforma da Constituição a um referendo. Isso seria democrático, pois, por exemplo, o senhor Tony Blair foi reeleito não sei quantas vezes na Grã-Bretanha", advertiu Chávez.