Título: No setor de açúcar e álcool, uma fusão ou aquisição a cada dois meses
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

O setor sucroalcooleiro vem registrando uma operação de fusão ou aquisição a cada dois meses, em média, nos últimos anos. Desde 2001, já foram 35 operações deste tipo, a última delas em fevereiro. Os dados são de levantamento da consultoria KPMG. Depois de empresas da área, nacionais e estrangeiros, o setor deve entrar em nova fase de negócios, agora investidores institucionais e grandes grupos estrangeiros devem iniciar uma nova onda de negócios no ramo.

Nos últimos cinco anos, a quantidade de operações foi 150% maior do que nos cinco anos imediatamente anteriores, de 1996 a 2000. "É um setor que está na moda, justamente por causa do potencial de crescimento", diz o sócio da KPMG André Castello Branco. Ele explica que deverá haver nova onda de concentração no setor, que é muito pulverizado no País. No início de fevereiro, a Cosan anunciou a compra por R$ 399 milhões do Grupo Corona, dono de duas usinas.

No Brasil, operam cerca de seis grandes grupos, nenhum deles com mais de 10% da produção total, indica o especialista. "Esse é um mercado para poucos e grandes", comenta. A primeira leva de aquisições setoriais foi em meados da década passada, com a fragilidade de algumas usinas, a partir do fim do mercado controlado. Em seguida, grupos maiores compraram empresas para crescer mais rapidamente.

O consultor explica que há "vários entrantes" potenciais, do exterior e locais, interessados em novos negócios, sem citar nomes de empresas. Atualmente, o setor desperta a atenção de fundos de investimentos e megainvestidores. Além da atratividade da produção do açúcar, muitos vêem o álcool como um negócio do futuro, do ponto de vista da energia.

Alguns exemplos deste interesse: recentemente, os donos do Google vieram conhecer empresas do setor no interior de São Paulo. Bill Gates, dono da Microsoft, é acionista de uma empresa de açúcar nos EUA, e tem interesse no setor. E ainda este mês o megaempresário Dan Slane esteve no Brasil, com foco na tecnologia da produção de álcool, segundo a colunista deste jornal Sonia Racy.

A contradição, contudo, é que neste momento os preços do açúcar e do álcool estão elevados. Os preços maiores engordam os lucros e aumentam a capitalização das empresas, que ficam mais fortes para novas investidas. A questão é que, quanto mais caro o produto, mais aumentam as dificuldades de acertar preço para os negócios.