Título: Argentina retoma áreas da empresa
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

A onda nacionalista patrocinada pelo presidente Néstor Kirchner no mercado argentino de petróleo não poupou a Petrobrás, segunda maior petroleira no país e parceira de primeira hora da estatal Enarsa, criada por Kirchner em 2004 para preencher a lacuna deixada com a privatização da YPF. Pressionado por executivos da Enarsa, o governo retomou, no fim de 2004, duas áreas para a exploração de petróleo e gás concedidas à Petrobrás dias antes.

O episódio ficou em sigilo e só veio à tona domingo, em reportagem do jornal portenho Clarín. Ontem, o diretor-financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, confirmou a perda das áreas, que fazem parte de uma estratégia da subsidiária local da estatal, a Petrobrás Energia, para ampliar suas reservas no país, hoje focadas em campos terrestres.

As áreas foram concedidas à Petrobrás um dia depois da criação da Enarsa, uma miniestatal de grandes ambições, criada com a intenção de garantir algum controle estatal sobre o abastecimento de combustíveis no mercado argentino, hoje totalmente privado.

Ao saber da concessão, a diretoria da recém-criada estatal reagiu imediatamente e protestou ao Ministro do Planejamento, Julio De Vido, homem de extrema confiança de Kirchner, com o argumento de que a empresa havia sido criada com o objetivo de partilhar a exploração energética com empresas privadas. O caso da Bacia Colorada - segundo a Enarsa - contradizia essa intenção.

Segundo o Clarín, De Vido, obteve o apoio do chefe do gabinete de ministros, Alberto Fernández (o braço direito de Kirchner), que removeu a concessão à Petrobrás, concedendo à Enarsa a posse total das áreas petrolíferas da Bacia Colorada.

Um ano e meio depois desse imbróglio, a Enarsa está montando um consórcio para explorar a mesma área, em conjunto com a Repsol-YPF e a própria Petrobrás. A Enarsa é a menina dos olhos de Kirchner. Conhecidos de longa data do presidente costumam afirmar que, desde sua época de governador da petroleira província de Santa Cruz, ele acompanha a questão energética com "peculiar obsessão".

O diretor-financeiro da Petrobrás confirmou as negociações para a exploração conjunta da área. "Estamos acostumados a trabalhar com parceiros."