Título: Petrobrás investirá quase 50% mais
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

A Petrobrás pretende investir R$ 38 bilhões em 2006, quase 50% a mais do que o recorde de R$ 25,7 bilhões aplicados no ano passado. Segundo o presidente da companhia, José Sérgio Gabrielli, o objetivo é manter o ritmo de crescimento dos últimos anos e garantir a sustentação da auto-suficiência no médio prazo. Na sexta-feira, a empresa anunciou lucro histórico de R$ 23,7 bilhões em 2005, resultado do aumento da produção e da alta do preço do petróleo no mercado internacional.

"O ano de 2005 foi importante não só pelo fantástico lucro que obtivemos, mas também pelo volume de investimentos que vai suportar o crescimento futuro da companhia", disse Gabrielli, em entrevista coletiva para comentar o balanço anual da companhia. Do total investido no ano, R$ 15,7 bilhões foram destinados à área de exploração e produção, que teve, sozinha, lucro de R$ 22 bilhões. A estratégia de concentrar investimentos nesse setor será mantida este ano, segundo o diretor financeiro da companhia, Almir Barbassa.

O segundo maior orçamento do ano passado, de R$ 3,35 bilhões, foi dedicado à área de abastecimento, responsável pela operação das refinarias e pela venda de combustíveis. A Petrobrás vem investindo para adequar suas refinarias ao pesado petróleo nacional e reduzir as importações de petróleo leve, que produz um mix de derivados mais adequado aos padrões de consumo brasileiro. A estratégia garantiu um aumento de 118% no lucro do abastecimento, que chegou a R$ 5,5 bilhões em 2005.

Mais do que refletir os reajustes nos preços dos combustíveis - que não acompanharam as elevações do mercado internacional durante o ano -, o resultado foi garantido pelo aumento da margem de lucro obtida no refino menos dependente das importações.

"A política de preços vem se mostrando correta, já que conseguimos acompanhar os preços internacionais sem transferir, para a economia nacional, as volatilidades do mercado externo", afirmou Barbassa, respondendo a críticas sobre um possível populismo na formação dos preços, que não acompanhariam de perto as cotações internacionais. De fato, o preço médio, em 2005, dos produtos vendidos pela companhia, US$ 58,61 por barril, ficou abaixo dos US$ 65,36 no mercado internacional.

Mas, ao processar um volume maior de petróleo nacional, mais barato que o importado, a companhia tem conseguido manter margens de refino de causar inveja a concorrentes. Na média do ano, 88% do petróleo usado pelas refinarias nacionais foi produzido pela própria estatal e vendido internamente - da área de exploração e produção para a de abastecimento - a US$ 45,42 por barril, o que garantiu uma margem de refino de US$ 13 por barril No fim do ano, com a queda das cotações internacionais, a margem se ampliou para mais de US$ 22 por barril, o dobro dos US$ 11,64 por barril apurados pela gigante britânica BP em suas refinarias do Golfo do México, por exemplo.

O consultor Carlos Eduardo Domingues, da Downstream, explica que as margens de refino de óleo pesado têm sido altas por causa da pouca disponibilidade para processar petróleo pesado no mundo. Ciente disso, a Petrobrás já negocia investimentos de US$ 500 milhões na Refinaria de Pasadena, no Texas, onde adquiriu participação em 2005. A idéia é capacitar a unidade para usar 70% de sua capacidade com petróleo brasileiro.