Título: Rodrigues cobra fim dos embarques à Rússia
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, enviou ontem uma carta ao secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Alves Maciel, cobrando-lhe explicações por não ter cumprido sua determinação para que suspendesse, a partir do dia 8 deste mês, a emissão de certificados autorizando embarques de carnes para a Rússia. Apesar da determinação, Alves Maciel, de acordo com a carta de Rodrigues, marcou para 20 de fevereiro o prazo final para a certificação e, depois, o prorrogou para 23 de fevereiro.

Ontem o embaixador da Rússia no Brasil, Vladimir Tyurdenev, e o chefe de gabinete do Ministério brasileiro da Agricultura, Maçao Tadano, disseram não acreditar no pagamento de propina por produtores brasileiros para liberação da entrada de carne na Rússia. A denúncia foi feita em reportagem publicada anteontem no Estado.

"Para mim é uma notícia um pouco estranha, me parece invenção de quem quer conseguir algo", disse Tyurdenev. "Nós desconhecemos essa prática e não acreditamos nisso", emendou Tadano. O embaixador russo disse que as autoridades do seu país não aceitariam a propina e ameaçou: "Isso é ilegal. Se houve prova de que isso é feito, a situação para os exportadores (brasileiros) vai piorar".

De acordo com a denúncia, exportadores brasileiros estariam subornando funcionários russos para furar o embargo decretado por causa da aftosa. O valor da propina seria de US$ 125 por tonelada de carne. Tyurdeney e Tadano participaram ontem de seminário no Rio, onde comentaram a denúncia.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Marcus Vincius Pratini de Moraes disse que a entidade nega envolvimento de seus associados em prática de propina e afirmou acreditar que a denúncia pode ter sido inventada por concorrentes. "Isso me parece mais uma dessas coisas de concorrentes do Brasil que ficam nos colocando problemas."

EMBARGO

Ontem, minutos antes do anúncio de novos focos de aftosa no Paraná, Tyurdenev culpou a demora das autoridades daquele Estado em admitir os primeiros focos da doença como o principal motivo da manutenção do embargo russo à compra de carne brasileira.

O embaixador deixou claro que as autoridades sanitárias russas só vão liberar a importação de carne brasileira após a certeza de que os focos de aftosa estão controladas no País. Ele citou a demora da confirmação dos primeiros focos de aftosa no Paraná como principal motivo da decisão russa pela extensão do embargo, inicialmente concentrado na carne de Mato Grosso do Sul. "Acho que devem ser resolvidos os problemas de combate à aftosa. Ficamos preocupados quando o Paraná demorou 45 dias para confirmar os focos da doença", disse.