Título: Bancos do valerioduto receberam R$ 389 milhões de fundos de pensão
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Nacional, p. A4

Relatório preliminar apresentado ontem na CPI dos Correios indica que, em 2003 e 2004, nove fundos de pensão aplicaram R$ 389 milhões em CDBs e fundos de investimento financeiro (FIFs) do Banco Rural e do BMG. Segundo levantamento do sub-relator de fundos de pensão, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), o valor investido saltou de R$ 48,8 milhões para R$ R$ 533,6 milhões no período, levando-se em conta as reaplicações.

Nessa mesma época foram efetuados saques, nesses bancos, das contas operadas pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão.

"Há uma relação direta entre os investimentos dos fundos de pensão no BMG e Rural e várias irregularidades detectadas pela CPI", concluiu ACM Neto. A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), protestou. "Essa sua afirmação é algo que não se sustenta matematicamente, financeiramente nem politicamente", reagiu Ideli. Em nota, os dois bancos também contestaram as conclusões do sub-relator, que qualificaram de "insinuações" e "ilações".

Já o relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), endossou o parecer. "Considero muito válidos e consistentes os dados apresentados pelo deputado ACM Neto. Estamos tratando de números, não de opiniões."

ACM Neto avalia que os investimentos foram um modo de compensar o BMG e o Rural pelo empréstimo de R$ 55 milhões para Valério, sem garantias. Em 2003, os dois bancos emprestaram R$ 40,8 milhões para empresas de Valério. Em 2004, o BMG emprestou mais R$ 14,4 milhões. "Foi a recompensa por participarem desse esquema espúrio. Esses investimentos foram um prêmio", reforçou.

VALORES

Em 2003, de acordo com o estudo de ACM Neto, nove fundos de pensão aplicaram R$ 42,5 milhões no BMG e no Rural, sempre em dinheiro novo. Em 2004, o volume de investimentos saltou para R$ 346,5 milhões. Essas operações correspondem às aplicações em CDBs e FIFs em "dinheiro novo", ou seja, não consideram as reaplicações.

Dos fundos de pensão que tiveram o sigilo bancário e fiscal quebrado pela CPI, o Real Grandeza, dos empregados de Furnas Centrais Elétricas, é o único que fazia aplicações volumosas no BMG e no Rural desde 2000. "Até 2002, o Real Grandeza concentrava e priorizava as aplicações no BMG e no Rural. A partir de 2003, houve ampliação de investimentos de todos os fundos", disse ACM Neto.

Ao todo, a CPI quebrou o sigilo bancário e fiscal de 14 fundos. O relatório apresentado ontem se refere a 12 deles, dos quais 9 aplicaram nos bancos ligados ao valerioduto. São eles: Nucleos, dos funcionários da Nuclebrás; Real Grandeza, de Furnas; Eletros, do Grupo Eletrobrás; Postalis, dos Correios; Previ, do Banco do Brasil; Serpros, do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro); Portus, da Portobrás; Funcef, da Caixa Econômica Federal (CEF); e Petros, da Petrobrás.

Os fundos de pensão da Geap, dos servidores federais; Refer, dos empregados da Rede Ferroviária; e Centrus, do Banco Central, não fizeram aplicações em CDBs e FIFs no Rural e BMG. O Prece, dos empregados da Companhia de Abastecimento de Água do Rio de Janeiro (Cedae), não foi incluído no relatório porque o Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu liminar proibindo a divulgação de seus dados.