Título: Nascentes aterradas e construções em pleno Jardim Botânico
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Vida&, p. A22

As agressões ao Lago Paranoá são apenas um dos exemplos de desrespeito ao meio ambiente em Brasília. Existem cerca de 300 mil pessoas morando em condomínios habitacionais na capital federal, muitos deles erguidos em áreas invadidas.

Grileiros e até mesmo moradores de condomínios de classe média derrubaram árvores de áreas de preservação e aterraram nascentes de rios. Há casas construídas até mesmo dentro do Jardim Botânico.

"Brasília, que deveria ser uma cidade modelo por ser uma capital federal e uma cidade planejada, acabou tendo problemas iguais aos de outras grandes cidades ou até piores. Principalmente depois dos anos 80, começou uma atividade intensa de grileiros, que passaram a invadir terras públicas se aproveitando de uma carência de moradia, principalmente da classe média", explica o procurador-geral de Justiça do Distrito Federal, Rogério Schietti.

Ele lembra que há uma grande carência de moradia na capital federal, porque a cidade, projetada para ter 500 mil habitantes, hoje tem mais de 2 milhões de moradores.

"De olho nesse mercado, os grileiros foram ocupando terras de maneira desordenada e isso com a complacência do poder público. Muitos danos ao meio ambiente são irreversíveis. Da noite para o dia, os grileiros iam lá com tratores e derrubavam todas as árvores, secando nascentes. Quando o poder público ia agir, já estavam lá algumas construções com gente morando", disse Schietti.

Como muitos condomínios foram feitos em áreas públicas, o procurador disse que é preciso que sejam feitas licitações e os moradores das casas precisam disputar os terrenos com outros eventuais interessados.

"A licitação é o único instrumento que permite que qualquer cidadão compre um bem público de maneira isonômica", disse.

Segundo o procurador, essas licitações foram suspensas pelo governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB).

Diante da resistência dos moradores-invasores, algumas das ocupações irregulares de Brasília, mesmo com infra-estrutura precária, acabaram se transformando em unidades administrativas reconhecidas pelo governo do Distrito Federal.