Título: Ainda sem resposta
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Vida&, p. A21

Promessa de cura: O gene da diabete, da velhice, da asma: o seqüenciamento trouxe a promessa para leigos de que a causa de tudo estaria nesses fragmentos. Para algumas doenças é verdade, mas a maioria das patologias que acometem o mundo, como hipertensão e depressão, está relacionada a uma série de genes, que podem sofrer 30 variações cada um, somada à influência ambiental. Conhecer todos os detalhes é de uma complexidade não imaginada

Genoma fast-food: Uma fundação de milionários anunciou o prêmio de US$ 10 milhões para quem desenvolver uma ferramenta que permita o seqüenciamento rápido e barato do genoma de qualquer pessoa - hoje, o processo leva cerca de seis meses e US$ 20 milhões. A intenção é aproximar o conhecimento da prática, o que ainda está para acontecer

Diagnóstico precoce: O diagnóstico baseado no mapa genético do paciente é um dos campos que mais cresceram, como na oncologia: quando comparado ao tecido normal, o doente apresenta alterações em determinados genes. Só que a hereditariedade responde por uma parcela pequena dos casos, e muitas doenças são mais complexas do que julga nossa vã genômica

Tratamentos sob medida: A farmacogenômica nasceu com uma grande aposta: o genótipo indicaria o tratamento correto, quem sabe até remédios personalizados. Algumas terapias se beneficiaram, sim. Na leucemia linflobástica aguda, a quantidade de determinada droga é dosada de acordo com a presença de uma mutação genética. Por outro lado, qualquer medicamento demora dez anos para virar produto. "É um processo caro, complexo, com desafios éticos e administrativos. Cinco anos é pouco", diz José Eduardo Santos, da USP. Quanto à terapia gênica, a perspectiva é pior. As tentativas clínicas trouxeram mais problemas do que soluções. Quem ainda trabalha com isso patina na complexidade do processo

Patrimônio da humanidade: A Unesco recomenda que os genes não sejam reconhecidos como propriedade. "O genoma humano não é invenção, é descoberta", diz o especialista em bioética Volnei Garrafa, da Universidade de Brasília. Pouco adianta: quase 20% dos genes humanos estão patenteados, dos quais 63% estão nas mãos de empresas e 28%, de universidades. Entre eles, estão genes ligados a importantes processos celulares, o que coíbe a pesquisa por outros grupos

Seleção perigosa: Hoje, uma mãe pode saber de antemão se o filho terá síndrome de Down e pode escolher entre abortar ou não fazer o implante, no caso de fertilização in vitro. Alguns grupos vêem a decisão como eugenia (estudo das condições mais propícias para reprodução e melhora da espécie). Outros defendem o direito à informação, mesmo que não exista consenso sobre diferenças raciais impressas no genoma. "Eugenia e genômica são conceitos ligados como fissão nuclear e bomba atômica", afirma o geneticista Marcelo Nóbrega, da Universidade de Chicago