Título: 5 anos do seqüenciamento do genoma humano depois...
Autor: Cristina Amorim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Vida&, p. A21

Bioinformática avança, novos biólogos usam genoma como ferramenta, mas resultados práticos ainda estão longe

Há cinco anos tinha início o "século da biologia", quando cientistas e leigos de todo o mundo pararam para ver o seqüenciamento do genoma humano se tornar público. Em fevereiro de 2001, as duas mais prestigiosas revistas científicas do mundo publicaram os trabalhos de dois grupos, um privado e outro público, que usaram metodologias diferentes para chegar a resultados bastante similares.

No dia 15, a Nature apresentava o trabalho do Projeto Genoma Humano, consórcio internacional de laboratórios liderado por Francis Collins; no dia seguinte, Craig Venter, da Celera Genomics, publicava seu estudo na Science.

O anúncio foi cercado por grandes expectativas do público e também do mundo acadêmico, apesar das ressalvas de sempre. Pela primeira vez, os cientistas seriam capazes de entender todos os pormenores que fazem o corpo funcionar. Em vez de um fim, o seqüenciamento era o começo e a promessa de novas terapias.

O que se vê, desde então, é o acúmulo de conhecimento. O RNA atualmente recebe tantos holofotes quanto o DNA. O discurso genecentrista, em que o gene é a explicação para tudo, é permeado por fatores ambientais. A comparação com genomas de outros animais, do rato ao chimpanzé, trouxe pistas sobre a evolução humana.

Avanços tecnológicos para viabilizar o seqüenciamento deram origem a uma área nova, a bioinformática, que cresce rapidamente. Uma geração de biólogos se forma com o genoma entre suas ferramentas.

O que não tem crescido na mesma proporção é a aplicação do conhecimento. Falta a prática, aquilo que o público ansioso espera receber pelo que investe em pesquisa, através dos governos, por tanto tempo. "Essa revolução do conhecimento ainda não se traduziu em prática médica", afirma o pesquisador e médico José Eduardo Tanus dos Santos, da Universidade de São Paulo (USP).