Título: Iniciativa ajuda a evitar migração para as cidades
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Vida&, p. A20

O investimento em educação do campo é uma das principais ferramentas para barrar a migração da zona rural para a cidade, dizem especialistas. Segundo números do Censo 2000 do IBGE, o Brasil tem 137 milhões de pessoas vivendo nas regiões urbanas e 31 milhões nas rurais. O êxodo se intensificou na década de 70, impulsionado pelo domínio das monoculturas e pela industrialização, que deixou sem opções milhares de pequenos agricultores.

Alguns educadores defensores das novas escolas do campo - e ligados a movimentos sociais - acreditam que é preciso inserir nos currículos noções de reforma agrária e luta pela terra. Mas só aprender a gostar do lugar onde moram, sem sonhar com a cidade grande, já impede a migração desnecessária. "Nas escolas, as crianças passam a valorizar o espaço em que vivem e jovens podem aprender a lidar com agricultura familiar e ver que há opções no campo", diz a professora e pesquisadora da área de desenvolvimento sustentável da Universidade de Brasília (UnB) Lais Mourão.

Apesar de um crescimento na oferta nos últimos anos, ainda não são comuns as escolas do campo com 5ª a 8ª série ou ensino médio. As crianças e adolescentes precisam ser levadas, pelas prefeituras, para estudar na zona urbana. Segundo estudo do Ministério da Educação, dos 3,5 milhões de alunos do País que usam transporte escolar, 67% vão para as cidades e 33%, para escolas rurais. "Eles vão para a zona urbana estudar e não voltam mais", diz o secretário de Alfabetização, Inclusão e Diversidade do MEC, Ricardo Henriques.

"Elas enfraquecem a produção agrícola e incham as cidades em busca de uma vida e educação que não são também grande coisa", completa o presidente da Câmara da Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE), Cesar Callegari.

VETERINÁRIA OU PROFESSORA

Em Matão, no interior de São Paulo, mais de 50% dos alunos moradores do campo usam o transporte para chegar a escolas rurais. É raro hoje encontrar crianças que digam querer mudar-se para a cidade quando forem adultas. Ao falarem do futuro, os sonhos das meninas se revezam entre cursar Veterinária ou ser professora. "Aqui não passa muito carro nem tem atropelamento", justifica Karen Aparecida Marcelina, de 10 anos. O pai é motorista de trator e a mãe, segundo ela, pragueira (trabalha procurando pragas nas plantações).

A vontade de ir para a cidade aumenta entre os mais velhos. No ônibus que a levava da escola para o sítio onde mora, Franciele Aparecida Campos, de 13 anos, falava de "como era bonita São Paulo vista do helicóptero". Ela nunca saiu do interior e seu sonho é alimentado pela TV. Mas tem certeza de que vai forma-se em Medicina e trabalhar na capital.