Título: Estado de pouca eficiência é grande produtor de líderes
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Nacional, p. A12,13

Renan, Aldo e Heloísa Helena são alagoanos, assim como Collor

Não é por falta de representantes nas altas esferas políticas que Alagoas se tornou o pior Estado em diversos indicadores socioeconômicos. Hoje, são alagoanos o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, do PC do B (eleito por São Paulo), e o do Senado, Renan Calheiros, do PMDB. Uma das candidatas à Presidência, e das figuras políticas de maior projeção nacional, é a senadora alagoana Heloísa Helena, do PSOL. No principal cargo da República, depois de ter emplacado os dois primeiros presidentes, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, Alagoas voltou ao poder com Fernando Collor, que foi eleito em 1989 e sofreu impeachment em 1992.

Para alguns observadores, o excesso de poder político pode ter feito até mal a Alagoas. O caso mais citado é o dos grandes aumentos ao funcionalismo público concedidos pelo ex-governador Divaldo Suruagy no início do Plano Real, que teriam sido baseados na sua confiança de que poderia acertar as contas do Estado com seu bom trânsito em Brasília. Assim como a renegociação da dívida dos usineiros pelo então governador Fernando Collor no fim da década de 80, em condições que muitos consideraram fortemente lesivas para o Estado, a renúncia de Suruagy é vista como causa dos muitos problemas que Alagoas enfrenta até hoje.

Na verdade, o Estado sofreu um colapso financeiro e administrativo, que culminou com a renúncia de Suruagy em 17 de julho de 1997, em meio ao caos de uma rebelião policial e dos protestos do funcionalismo, revoltado por atrasos salariais de nove meses. O mandato foi concluído por Manoel Gomes de Barros Filho, com forte interferência do governo federal de Fernando Henrique Cardoso.

RENEGOCIAÇÃO DA DÍVIDA

Segundo o vice-governador Luis Abílio de Sousa Neto, Alagoas foi forçada a assinar um contrato de renegociação da dívida estadual dentro das condições mais draconianas possíveis em termos de prazos, juros e porcentual mínimo de comprometimento da receita líquida com os pagamentos da dívida. Nas contas do Estado, a dívida era de R$ 2,35 bilhões no fim de 1998, e hoje já atinge R$ 5,67 bilhões, depois de pagamentos da ordem de R$ 1,72 bilhão.

Por causa da fragilidade financeira, Alagoas perdeu a capacidade de contrair novos empréstimos, o que explica, segundo Abílio, o mau desempenho em saneamento. Para o vice-governador, "a grande obra do governador Ronaldo Lessa foi equilibrar as contas do Estado". Ele observa que, com Lessa no governo, não houve mais atrasos de salários, todas as contrapartidas estaduais de programas foram honradas, 20 mil funcionários nas áreas de educação, saúde e segurança foram contratados por concurso, o salário médio dos funcionários dobrou, o custeio da máquina administrativa ampliou-se em mais de 300%, e a arrecadação aumentou.

No início do mandato, ele lembra, o serviço público e as escolas estavam sucateados, ainda como reflexo da crise de 1997. Entre as realizações do governo Lessa, Abílio cita a ampliação, reforma e construção de mais de 400 escolas, a abertura de 180 mil vagas escolares, com triplicação no ensino médio, a veloz redução da mortalidade infantil (comprovada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, o Unicef) e do analfabetismo, e diversos programas voltados para pequenas e médias empresas, centrados na agropecuária e no turismo. Hoje, Alagoas tem um moderno aeroporto e suas rodovias estaduais estão em estado bem melhor do que a média brasileira.

Para a oposição, liderada pelo usineiro e deputado federal João Lyra, do PTB, pai de Thereza Collor, Lessa empenhou-se pouco em atrair investimentos para Alagoas. Um dos fatores que agravam a crise social no Estado é a grande redução na área plantada de cana de açúcar - principal atividade econômica alagoana. A produção, na verdade aumentou, mas os empregos no campo diminuíram.

Outra preocupação atual são os grandes investimentos que os usineiros alagoanos estão fazendo, na própria atividade, fora do Estado, principalmente em São Paulo e Minas Gerais.