Título: PT teria usado caixa 2 para pagar Duda em 2004
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Nacional, p. A9

CPI não encontra registro dos R$ 9,3 milhões que marqueteiro teria recebido por campanhas

A CPI dos Correios descobriu indícios de que as campanhas do marqueteiro Duda Mendonça para o PT nas eleições de 2004 foram pagas via caixa 2. Naquele ano, o publicitário trabalhou para seis candidaturas a prefeito pelo partido, uma das quais a tentativa de reeleição de Marta Suplicy em São Paulo. Os técnicos da comissão verificaram que os R$ 9,3 milhões que Duda teria recebido oficialmente dos comitês não entraram nas contas do publicitário.

Os peritos não encontraram nenhum registro de depósito dos comitês de campanha para as duas contas da CEP Comunicação e Estratégia Política - empresa de Duda que prestou os serviços - nem para as outras contas ligadas ao marqueteiro.

A exceção é uma transferência de R$ 124 mil do comitê do candidato do PT à prefeitura do Recife, João Paulo Silva, para a CEP. Os técnicos cruzaram os dados das contas do publicitário com as prestações de contas dos comitês à Justiça Eleitoral.

Obtida pelo Estado, a análise mostra que a CEP era abastecida quase integralmente pela empresa-mãe do publicitário, a Duda Mendonça Associados. A conta desta empresa tinha como maior fonte de recursos depósitos da Presidência e da Petrobrás, em razão de contratos de publicidade com o governo.

Procurado para esclarecer a forma de pagamento, Tales Castelo Branco, advogado do publicitário, disse que não seria possível checar os extratos e a contabilidade das empresas de Duda. "Quem tem que explicar como se deram os pagamentos é o PT. Duda recebeu pelos serviços prestados e já explicou tudo à Receita Federal."

O secretário de Finanças do PT, Paulo Ferreira, afirmou que a responsabilidade pelos pagamentos é de cada comitê. "Não participamos dos contratos dos comitês municipais."

Para tributaristas ouvidos pelo Estado, a primeira hipótese é a de que o marqueteiro tenha recebido em espécie e gasto os recursos com os fornecedores, cada vez que eles passaram pelas suas contas oficiais. A segunda é a de que o pagamento tenha sido feito no exterior, como na campanha de 2002.

O fato de as contas das empresas de Duda não terem recebido recursos dos candidatos não impediu o marqueteiro de pagar os fornecedores. Entre os beneficiários está Luis Favre, marido de Marta Suplicy e próximo ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Favre recebia R$ 14 mil da CEP por mês. Depois da campanha, ele recebeu R$ 148 mil de Duda.

Agora, a CPI investiga se o mesmo mecanismo aconteceu em 2000, quando o publicitário trabalhou para o PSDB e para Paulo Maluf.