Título: À noite, mais satisfeito, governador ameniza o tom
Autor: Carlos Marchi e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Nacional, p. A10

A conversa com o triunvirato tucano e a promessa de que outras instâncias partidárias serão ouvidas para definição do candidato à Presidência fizeram o governador Geraldo Alckmin amenizar o tom de suas declarações na noite de ontem. Voltaram à boca do governador as frases sobre unidade partidária e seu perfil de "soldado do partido", substituindo a insistência em prévias ou a lembrança de que está disposto a "ir até o fim".

"O candidato que o partido escolher, o soldado Alckmin estará sempre puxando a bandeira", afirmou, durante jantar com a bancada federal do partido, na casa do deputado Eduardo Campos (TO), em Brasília. Mas observou: está trabalhando "todos os dias" para ser "o candidato do entendimento e da unidade partidária".

"O governador fez questão de deixar claro que quer que a candidatura dele seja produto do entendimento, e não produto do confronto", disse depois do jantar o deputado Alberto Goldman (PSDB-SP). Para o ex-líder da bancada tucana na Câmara, um serrista, a conversa com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Tasso Jereissati e o governador Aécio Neves foi responsável pelo tom mais ameno de Alckmin.

O jantar com a bancada tucana foi realizado a pedido do próprio governador paulista. Foi um dos movimentos de uma seqüência programada pelo governador para mudar os rumos da escolha do candidato tucano, que incluiu o apoio integral da bancada estadual do PSDB paulista, anunciado na manhã de ontem. Os dois eventos, mais uma oportuna visita do governador Cássio Cunha Lima, da Paraíba, serviram de suporte ao principal argumento esgrimido por Alckmin no almoço com o triunvirato tucano.

Alckmin cobrou a ampliação das consultas, alegando ter maioria em todas as instâncias do partido. Ao contestar o triunvirato e pedir mais democracia interna, o governador correu um risco calculado - o de criar áreas de fricção com FHC, Tasso Jereissati e Aécio Neves. Em compensação, conseguiu reordenar o processo e estancar um encaminhamento que tendia para José Serra.

Alckmin tem repetido que 9 dos 15 senadores do partido o apóiam, assim como os governadores de Goiás, Paraíba, Pará e Roraima.Também costuma exibir números da última pesquisa que trouxe a intenção de voto segmentada em São Paulo: segundo o Datafolha de dezembro, no Estado ele venceria Lula no 1º turno por 53% a 19%, e, no 2º, por 65% a 25%. Ele complementa o argumento lembrando que é pouco conhecido e tem margem para crescer.

Alckmin alega que, quando exibir nos outros Estados o reconhecimento de seus conterrâneos, ganhará o voto deles. Tudo isso é uma hipótese e como tal é recebida de forma contida pela direção do partido.