Título: Alckmin convence triunvirato a ampliar consulta
Autor: Carlos Marchi e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Nacional, p. A10

Numa conversa de duas horas e meia com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Tasso Jereissati (CE) e o governador Aécio Neves, o governador Geraldo Alckmin disse que só uma consulta ampla, que dê legitimidade à escolha do candidato do PSDB à Presidência, garantirá a unidade do partido em outubro.

Ao fim, os quatro decidiram pela ampliação das consultas: senadores e deputados serão ouvidos por Tasso e os governadores informarão à direção nacional sobre tendências nos Estados. Com os dados das consultas na mão, Tasso orientará a escolha final do candidato do partido, que será anunciado entre 10 e 15 de março.

Ontem, Alckmin disse ao triunvirato que não abre mão de sua pré-candidatura porque acha que tem maioria em todas as instâncias do partido. "Coloquei minha candidatura à disposição do partido e falei da minha disposição na construção do entendimento e da minha intenção de trabalhar pelo Brasil", disse ele após o almoço.

Alckmin conta com argumentos que considera inquestionáveis: tem uma presumida maioria em qualquer instância partidária e aposta no constrangimento de Serra para deixar a Prefeitura e disputar abertamente com ele a indicação do partido.

MAIS PRAZO

Ante a posição inflexível do governador, Tasso, que é presidente do PSDB, admitiu que a escolha poderá se estender por um tempo maior que o previsto, como antecipou o Estado ontem. Para Tasso, o partido vai continuar conversando para buscar um entendimento. "Só se não houver entendimento é que se poderá discutir um critério para a disputa", disse ele, salientando que será "um fracasso pessoal" se esse entendimento não for conseguido.

Segundo Tasso, "o grande problema do PSDB é ter dois grandes candidatos que estão à altura de governar o Brasil em qualquer circunstância". Ele admitiu que, para bem coordenar a escolha do candidato, é necessário que os dois postulantes estejam de acordo com todos os passos. "Os dois vão ter de chegar a um acordo e um deles precisará abrir mão", observou o presidente tucano.

Sabedor disso, o governador disse ao triunvirato que, se não houver uma eventual desistência do outro pré-candidato, o prefeito José Serra, a única saída será aprofundar a audiência do partido. Foi ouvido: para contornar uma disputa interna pouco usual à tradição tucana, os quatro acabaram decidindo um formato híbrido, que, sem ser uma prévia, amplia a consulta.

Nas próximas semanas, Tasso consultará as bancadas de senadores e deputados federais do PSDB, enquanto os governadores ouvirão as principais figuras do partido em seus Estados. Ninguém soube informar, no entanto, quem ouvirá as seções do partido nos Estados onde o PSDB não é governo. Enquanto isso, Tasso seguirá conversando com os pré-candidatos.

O deputado estadual Edson Aparecido (SP), alckmista, disse ontem que a romaria esperada por Serra para empurrar sua candidatura ocorreu com Alckmin, o que mostra o prestígio do governador no partido, segundo ele. Apesar de destacar os apoios a Alckmin, Aparecido encheu Serra de elogios, dizendo que, "por sua experiência e liderança, ele tem de ser o grande condutor da campanha de Alckmin à Presidência da República".