Título: Tucanos preparam plano para seduzir mais pobres
Autor: Ricardo Brandt
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Nacional, p. A6

Intenção do PSDB é popularizar discurso, aumentar militância e divulgar seus programas sociais, de olho nos setores que hoje dão apoio a Lula

O PSDB quer deixar para trás o estigma de partido das elites. Por conta disso, pretende investir num plano de popularização da legenda, a ser iniciado logo após a definição da candidatura presidencial - o que deve ocorrer no início de março. O objetivo é buscar o voto das camadas populares da sociedade, que deram impulso à campanha de Lula em 2002 e ajudaram o PT a chegar à Presidência.

A avaliação do PSDB é que os escândalos que atingiram o governo Lula nos últimos dois anos fizeram com que o eleitor de classe média repensasse seu apoio ao PT e abrisse mais espaço para as candidaturas tucanas.

De olho nesse eleitor desiludido, o PSDB já definiu alguns passos considerados estratégicos que pretende dar no esforço de popularização da legenda. Em primeiro lugar estão as pesquisas qualitativas destinadas a identificar quais os interesses desse eleitorado e qual discurso pode sensibilizá-lo.

Os resultados das últimas pesquisas de intenção de voto - que apontam o fortalecimento de Lula entre as camadas mais pobres e o crescimento do PSDB entre os mais ricos - reforçaram a necessidade de um diagnóstico mais preciso do perfil desse eleitorado. O tucanato definiu também que é necessário dar publicidade aos projetos sociais das suas gestões.

De acordo com uma importante liderança do partido, o objetivo é dar mais destaque, nos programas eleitorais de TV e rádio, às realizações de governos tucanos que beneficiaram diretamente os mais pobres. "Vamos mostrar para a população que o PSDB no poder também faz política para pobres e que isso não é uma característica exclusiva do PT", assinala o tucano.

Segundo a mesma fonte, programas como Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Saúde da Família, Mutirão Contra a Catarata e Genéricos, todos desenvolvidos durante gestões tucanas, farão parte do pacote a ser divulgado pelo PSDB. Outra medida já em prática é o fortalecimento da militância - área em que o partido tem pouca força, se comparado ao PT.

Além de reativar coordenações regionais no interior dos Estados, como ocorreu em São Paulo, a legenda pretende aumentar o número de candidatos a deputado. "Queremos fortalecer as estruturas regionais do partido, que é onde se pensa e planeja a política local. É nessas áreas que teremos que contar com a nossa militância", explica o presidente do PSDB paulista, deputado estadual Sidney Beraldo.

"A ação municipal será fundamental. A disputa no fundão do Brasil será feita por prefeitos, vereadores e líderes locais", define o novo líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Jutahy Magalhães Júnior (BA).

Para Jutahy, o PT perdeu o apoio da classe média e não tem trabalhado para reverter isso. Ele considera que o partido de Lula se dirige a quem já acredita nele. "Fazem um discurso superfrágil, dirigido ao eleitorado menos instruído. Mas isso não sobrevive numa campanha eleitoral."

PARA OS POBRES

"O Lula perdeu a classe média, um setor que fortaleceu a sua campanha em 2002", opina o líder. "Ao invés de trabalhar para recuperar esse eleitorado, que tem acesso à informação e está muito desiludido com o PT, o partido passou a fazer uma campanha dirigida para as camadas de extrema pobreza, que podem facilmente ser manipuladas."

Para o deputado federal Alberto Goldman (SP), outra liderança nacional tucana, o afastamento do PT de suas bases sociais já é um fato consolidado. "O PT só dispõe hoje do discurso do assistencialismo, que tem influência entre as camadas mais pobres e menos instruídas", afirma. Segundo o deputado, o papel do PSDB será levar a informação a esse público "mais exposto à demagogia".