Título: Presidente quer anti-Dirceu no comando da reeleição
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Nacional, p. A4

Lula só fez sondagens, mas já avisou que o coordenador não será um "poderoso chefão" Lula só fez sondagens, mas já avisou que o coordenador não será um "poderoso chefão"

Em plena campanha à reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem deixado colaboradores agoniados. Motivo: quer inaugurar obras num ritmo frenético, em verdadeira maratona de viagens, mas dá sinais de que transformará a definição do coordenador-geral da campanha numa novela semelhante ao anúncio oficial de sua candidatura, previsto para junho.

Até agora, Lula só fez sondagens e não ungiu nenhum nome. Apenas avisou que o perfil será muito diferente do "estilo trator" do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, o comandante da vitória de 2002 que acabou cassado pela Câmara.

"Eu não quero saber de poderoso chefão", afirmou o presidente, segundo relato de ministros. Lula tem horror a parecer "tutelado" e, depois do escândalo do mensalão, esse pavor se acentuou. Ansiosos, os interlocutores mais próximos pedirão a ele, ainda nesta semana, que delegue a companheiros de sua confiança a tarefa de montar o time da campanha - uma espécie de missão "precursora", para adiantar o expediente.

O presidente tem dito que não quer esvaziar o governo para anabolizar o comitê da reeleição. Precisa mostrar serviço. Ao menos por enquanto, avalia que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não deve deixar o cargo para coordenar a sua campanha. Até segunda ordem, portanto, Palocci fica.

Jaques Wagner, ao contrário, está mais para sair. Ministro das Relações Institucionais, deve ser candidato do PT ao governo da Bahia. No ano passado, Lula chegou a cogitar Wagner para chefiar a campanha, mas, como não decidiu nada, o PT baiano bateu o pé: alega que não construiu outra candidatura para enfrentar o PFL do governador Paulo Souto.

Os petistas mais nervosos falam até em formar um novo modelo de coordenação, com um triunvirato para substituir Dirceu. Dois antigos colaboradores de Lula são dados como certos no comitê: o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, e o assessor de Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Vice-presidente do PT, Garcia já começou até a rascunhar diretrizes do programa de governo.

Para o lugar de Wagner no ministério, a bolsa de apostas do Planalto vai na direção do governador do Acre, Jorge Viana (PT), que deve renunciar ao cargo em abril. Muitos interlocutores de Lula, porém, acham que ele deve ser "puxado" para a campanha. "Estou disposto a colaborar", disse Viana. O mesmo refrão é entoado pelo ex-ministro Tarso Genro.

Na prática, de oito a dez ministros poderão deixar a Esplanada até o prazo legal de 31 de março, para disputar as eleições de outubro. Lula se recusa a chamar as trocas de reforma ministerial, pois a tendência é que os titulares sejam substituídos pelos secretários-executivos. Ao contrário de antecipar as mudanças na equipe, como chegou a planejar, tudo indica que vá deixá-las para a última hora.

PMDB NA CABEÇA

Lula também quer esperar "até o limite" pelo PMDB antes de escolher o vice de sua chapa. Mas, se for frustrado o sonho do casamento de papel passado com o partido que tem o maior tempo no horário eleitoral - hipótese mais provável -, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB), tem boas chances de fazer dobradinha com Lula.

No cenário de hoje, o Planalto torce para que o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, vença o desafeto Anthony Garotinho na prévia peemedebista, marcada para 19 de março. O diagnóstico palaciano é otimista: se a candidatura de Rigotto não emplacar - como é esperado -, o PMDB correrá para os braços de Lula até maio. Mas nada é tão simples assim em se tratando de um partido dividido como o PMDB.

Em conversas reservadas, Lula diz que o candidato a vice precisa oferecer o dote do "valor agregado" - ou seja, atrair votos e vencer resistências. José Alencar cumpriu esse papel em 2002.

Empresário bem-sucedido de Minas - segundo maior colégio eleitoral do País -, ajudou Lula a quebrar preconceitos. Mas, ao trocar o PL pelo minúsculo PRB, praticamente sepultou a pequena possibilidade de ser novamente vice.