Título: Dirigente do Irã sonda o Brasil
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Internacional, p. A13

Sem colher resultados práticos em sua tentativa de buscar o apoio do Brasil ao Irã na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o presidente do Parlamento iraniano, Gholam Ali Haddad Adel, esforçou-se ontem para obter pelo menos a simpatia de uma platéia de estudantes da Universidade de Brasília a teses polêmicas do novo governo de seu país. Em palestra no Auditório da Reitoria, Adel chegou a corrigir as versões de que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, havia defendido a eliminação de Israel e negado o Holocausto cometido pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial.

"Nunca durante a história fomos inimigos dos judeus. Nunca fomos contra nenhuma religião divina. Nunca cometemos atos de genocídio. O povo iraniano não quer hostilidade contra o povo judeu", afirmou para destacar que desde a Revolução Iraniana (1980) Israel fez várias ameaças de atacar militarmente o Irã.

"Nosso presidente e nossas autoridades não estão de acordo com o que aconteceu aos judeus na Europa. Mas ele (Ahmadinejad) só fez uma pergunta simples: se o Ocidente é responsável por esse ato contra os judeus, por que os árabes têm de pagar por isso?", disse Adel que, como todo iraniano, não árabe, mas persa.

Em 14 de dezembro, Ahmadinejad afirmara que o Ocidente inventou o "mito de que os judeus foram massacrados" e sugeriu aos EUA, à Europa e Canadá que criassem um Estado israelense em seus territórios.

Antes disse, Ahmadinejad já havia chocado a opinião pública quando afirmou que Israel deveria ser "varrido do mapa". Mas ontem o presidente do Parlamento iraniano assegurou que declarações do líder iraniano foram distorcidas. "Temos até um representante judeu em nosso Parlamento, com os mesmos direitos que os meus", disse.

Adel esteve também com o presidente de Cuba, Fidel Castro, e fez uma escala na Venezuela de Hugo Chávez. Seu périplo para buscar de apoio ao programa nuclear de Teerã acabou em Brasília, onde Adel não conseguiu convencer o presidente da Câmara, Aldo Rebelo. Procurando manter-se na mesma linha do Itamaraty, Rebelo deixou claro que o programa nuclear do Brasil tem fins pacíficos.

Durante a conversa, Adel indagou se os votos do Brasil na AIEA se guiavam pela aspiração do País de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CS), segundo relato de Rebelo ao Estado.

Como membro da Junta de Governadores da AIEA, o Brasil votou, no mês passado, a favor do envio de uma resolução informativa sobre o caso do Irã ao Conselho de Segurança. E pode vir a ser chamado a opinar sobre uma eventual decisão da agência de recomendar ao CS sanções contra aquele país.