Título: Aristide diz que voltará ao Haiti
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Internacional, p. A14

Em entrevista a uma emissora de TV da África do Sul, onde está asilado, o presidente deposto do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, disse que pretende voltar a Porto Príncipe o mais depressa possível. O presidente eleito, René Préval, ex-aliado de Aristide, declarou que, como cidadão, o ex-presidente tem o direito de retornar. Na semana passada, os EUA, que patrocinaram a queda de Aristide, em fevereiro de 2004, manifestaram-se contra sua volta. Préval, que dará hoje sua primeira entrevista à imprensa, deverá tratar da questão.

Em Cité Soleil, as gangues rivais que controlam o bairro-favela mais violento de Porto Príncipe, deram uma trégua à polícia do Haiti e às forças de paz das Nações Unidas (Minustah) para a posse de Préval, que assume depois de dois anos de governo provisório.

Os tiroteios diários , que apavoravam a população de Cité Soleil, cerca de 250 mil habitantes, cessaram esta semana, sem comunicado formal. O número de seqüestros caiu de 164 em dezembro e 21 em janeiro para 7 em três semanas deste mês. Segundo a Rádio Kiskeya, o comércio reabriu e os carros voltaram a circular no bairro, antes inacessível. Os moradores iniciaram um trabalho de limpeza, para remover o lixo das ruas e o entulho acumulado pelo bombardeio no confronto entre grupos armados e soldados da Jordânia, responsáveis pela segurança da área.

Até a véspera das eleições do dia 7, o comando da Força Militar da Minustah planejava invadir e ocupar Cité Soleil para acabar com uma situação que, conforme declarou o general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira ao Estado, não poderia ser toledada. Ontem, oficiais brasileiros manifestavam a esperança de que seja possível negociar condições de segurança razoáveis sem se recorrer à violência. A responsabilidade pela área continuará com a Jordânia.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a intenção de assistir à posse de Préval, no dia 29 de março, segundo fontes da Minustah. Um diplomata brasileiro informou em Porto Príncipe que estão sendo feitas sondagens para se montar a logística da viagem, mas nada foi decidido. No caso de se confirmar a presença de Lula, o embaixador do Brasil, Paulo Cordeiro de Andrade Pinto, tentará convencer a segurança a hospedar o presidente no Haiti. Segundo o diplomata, os haitianos se sentiram ofendidos e discriminados, em agosto de 2004, quando Lula foi assistir ao jogo da seleção brasileiras em Porto Príncipe e pernoitou na República Dominicana .

No dia 12 de março, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, visitará o porto de Jacmel, para comemorar bicentenário da expedição de Simón Bolívar, que partiu do Haiti, em 1806, para a luta pela libertação da América do Sul. Chávez , que acaba de restabelecer com Porto Príncipe as relações suspensas após a queda de Aristide, convidou Préval para a visitar Caracas e prometeu fornecer petróleo aos haitianos a preços privilegiados.