Título: Política externa ajuda Petrobrás
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Economia & Negócios, p. B5

Estatal segue iniciativas terceiro-mundistas do governo Lula e do Itamaraty e ganha com ampliação de negócios

O governo Luiz Inácio Lula da Silva maturou, nesses três anos, uma inédita sinergia entre a Petrobrás e a política externa ditada pelo Palácio do Planalto e pelo Itamaraty. No rastro das iniciativas terceiro-mundistas da administração, a Petrobrás ampliou negócios e buscou oportunidades em 13 países. E alavancou a cooperação e os investimentos em países de especial interesse da diplomacia. Tanto quanto o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Petrobrás tornou-se claro instrumento da ação do País no plano internacional.

De 2003 até o final de 2005, a empresa injetou US$ 2,7 bilhões no exterior. Entre 2006 e 2010, planeja investir US$ 7,1 bilhões, dos quais US$ 2 bilhões neste ano. No dia 9, na Argélia, o papel da Petrobrás na agenda externa do governo foi explicitado pelo próprio presidente Lula. Conforme ele relatou, havia encontrado no início de 2003 uma estatal gigantesca, porém "tímida" no campo internacional. Sua ordem foi clara e seguida à risca: ousar, sair à caça de negócios, mas com o cuidado de não rasgar dinheiro.

"A Petrobrás não atua mais no exterior com o objetivo do abastecimento do mercado brasileiro desde 2003. A meta agora é investir na busca de rentabilidade, sem filantropia e com base em contratos", resume o diretor da Área Internacional da companhia, Nestor Cerveró.

Se entre 1972 e 2001 a Petrobrás foi buscar petróleo e gás no exterior para as necessidades do País, desde o início desta década segue a mesma linha de suas principais concorrentes - a de investir nas oportunidades de exploração, produção e distribuição em outros países. Passou pelo Irã e pelo Iraque, iniciou atividades nos Estados Unidos, na Colômbia, no Norte da África e na Nigéria.

Atualmente, afirmou Cerveró, nenhum dos 270 mil barris extraídos no exterior entra no Brasil. O óleo é retirado, refinado e distribuído ao mercado local ou exportado. Apenas o gás boliviano ingressou no País. No plano estratégico da Petrobrás, a produção no exterior deverá atingir 613 mil barris diários em 2010 - o equivalente a 15% do total a ser produzido pela companhia no período.

Oitavo lugar entre as maiores petroleiras de capital aberto do mundo, a Petrobrás conseguiu rapidamente instalar-se em todos os países da América do Sul, com exceção da Guiana e do Suriname, seguindo a orientação do Planalto de estreitar relações com a vizinhança.

Passou a conduzir o processo de integração energética no continente - estratégia idealizada na gestão Fernando Henrique Cardoso que se tornou uma das obsessões da política externa do governo Lula.

"A Petrobrás soube acompanhar a ênfase da política externa à integração sul-americana, a partir de sua atuação anterior no Cone Sul, e também responder à motivação do governo à internacionalização das companhias brasileiras", resumiu a diretora-executiva do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Denise Gregory.

Além da América do Sul, a política externa para o mundo em desenvolvimento e pobre conectou-se aos interesses da Petrobrás na África e no Oriente Médio. Desde 1999, a companhia havia ingressado na Nigéria, país produtor do petróleo mais valorizado do planeta. Mas só no ano passado conseguiu arrematar a exploração de dois novos poços. Em Angola, a Petrobrás pretende expandir negócios a partir deste ano. Na Tanzânia, firmou contrato para exploração em águas profundas. Atacou ainda com a aquisição de dois poços na Turquia e com o ousado retorno ao Irã, onde vai perfurar poços e extrair petróleo no Golfo Pérsico.

A Petrobrás acompanhou o presidente Lula mundo afora, em quase todos os seus percursos internacionais, especialmente quando envolviam missões empresariais, rodadas de negócios e interesses. Foi assim na Líbia, onde o presidente Lula tocou nas oportunidades da parceria entre a Petrobrás e a National Oil Corporation (NOC) na conversa que teve com Muamar Kadafi debaixo de sua tenda fortemente protegida, em dezembro de 2003. O negócio foi fechado em março de 2005.

Mercado que mais atrai investimentos e negócios, a China tornou-se outro alvo da Petrobrás. A visita de Lula a Pequim, em maio de 2004, e a retribuição do presidente Hu Jintao seis meses depois abriram espaço para a estratégia da Petrobrás de imersão no mercado chinês para vender petróleo pesado e refinado. A estatal mantém acordos com as duas maiores chinesas do setor, a Sinopec e a CNPC.

A aliança de Lula com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, também rendeu dividendos à Petrobrás. Segundo Cerveró, as iniciativas anteriores de parcerias com a PDVSA não haviam prosperado. Nos últimos três anos, a Petrobrás obteve concessões para explorar reservas venezuelanas no Mar do Caribe e na Costa do Pacífico e fechou um acordo para investimento conjunto na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. As companhias ainda atuam no projeto de construção de um gasoduto que permitirá o fornecimento de gás das jazidas venezuelanas a Brasil, Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai.