Título: Bunge fechou 9 fábricas e pode fechar mais este ano
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

À luz das novas desvalorizações do dólar, a Bunge, gigante multinacional que processou sozinha 13 milhões de toneladas de soja no ano passado, avalia se terá de fechar novas fábricas no Brasil. Em dezembro, a empresa suspendeu as atividades de 7 das 49 unidades para produção de fertilizantes e outras 2 das 12 fábricas de esmagamento de soja. Tudo isso ao mesmo tempo em que montou uma esmagadora de 19 mil toneladas por dia na Argentina. Fez isso por razões tributárias e de competitividade no País vizinho.

O investimento de US$ 1,3 bilhão para os próximos quatro anos será cortado em 70%. A suspensão do investimento atingirá a parte que seria aplicada no aumento da capacidade de industrialização da Bunge no Brasil. A empresa vai manter apenas o investimento em logística, exatamente no segmento que poderá dar à empresa novos níveis de produtividade.

"O impacto do câmbio se tornou violento para a empresa. A única forma de manter a rentabilidade da operação, exigida pelos acionistas, foi o fechamento das fábricas", explica Adalgiso Telles, diretor de comunicação corporativa da Bunge.

Mas o prejuízo não se resume ao fechamento de fábricas. A Bunge avisa que há um processo de desindustrialização em curso no setor agrícola. Os problemas tributário, logístico e cambial conduzem as processadoras de soja a, gradualmente, reduzir o processamento.

A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) aponta que o Brasil aumentará em 10% neste ano a exportação de grãos. A venda dos produtos industrializados (farelo e óleo) deve cair 4%. A Bunge já fez esta mudança em 2005.

A receita de exportação da Bunge aumentou em 2005 para US$ 2,2 bilhões. O problema é que esse dado mascara um problema. Esse resultado foi obtido com mais exportação de matéria-prima (o grão) e menos com os industrializados (farelo e óleo). "O drama desta situação é que a perda de indústrias não é algo simples de ser revertido. O Brasil está se tornando um fornecedor mundial de matéria-prima, está perdendo capacidade industrial. Não é um processo que se reverta facilmente depois de deflagrado", adverte Telles.

ADM

A Archer Daniels Midland (ADM), uma das grandes esmagadoras de soja do País, também segue os caminhos da Bunge. A empresa acaba de reduzir em 30% a capacidade de esmagamento de soja no Brasil. As unidades de Três Passos (RS) e Paranaguá (PR), com capacidade de processar mil toneladas de soja por dia, não voltarão a operar na safra 2006/2007. "Existe um custo real crescente e isso provoca uma perda de competitividade internacional da ADM Brasil. Isso nos fez segurar os investimentos e fechar estas unidades", diz Bernard Hennies, diretor de originação da ADM. O cenário atual levou a empresa a interromper um ciclo de investimentos em curso, o que pode mudar se houver uma inversão do câmbio.