Título: Governo e exportador negam denúncia
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

Aumento das vendas de carne para a Rússia foi autorizada, dizem

O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Gabriel Alves Maciel, negou a existência de corrupção nas exportações de carne bovina para a Rússia, principal destino do produto brasileiro até a última declaração do embargo, em dezembro de 2005. "Desde dezembro, os fiscais federais agropecuários não emitem certificados para exportação de carne para a Rússia", garantiu.

Segundo dados da Secretaria de Relações Internacionais do ministério, a receita com embarques para a Rússia cresceu 97% - de US$ 266 milhões no acumulado de outubro de 2004 a janeiro de 2005 para US$ 526 milhões no acumulado de outubro de 2005 a janeiro deste ano.

O secretário lembrou que a Rússia autorizou a entrega de lotes contratados até 13 de dezembro, quando passou a valer o embargo ampliado, o que justifica, segundo ele, o aumento. Essa também é a explicação do diretor Ricardo Cotta, da Secretaria de Relações Internacionais. "O que foi comprado antes pôde ser entregue", disse.

AMOSTRAGEM

O governo não tem uma estimativa dos volumes vendidos até a suspensão. O fiscal federal agropecuário Aguinaldo Scheffer, da Superintendência Federal de Agricultura de Santa Catarina, acrescentou que os volumes estocados nos portos também foram entregues à Rússia, mesmo depois do embargo de dezembro. "Não tenho idéia de volumes, mas era muita coisa".

Os carregamentos de carnes para a Rússia saem de vários portos, mas especialmente de Itajaí (SC). Em cada um, um inspetor russo tem de avaliar as cargas, conforme acordo sanitário entre os dois países. Para evitar fraudes, os lotes são lacrados, disse o fiscal.

Por amostragem, os russos abrem as cargas para avaliar os lotes e podem rejeitá-las e devolvê-las à exportadora autorizada. Em Santa Catarina, há pelo menos cinco autorizadas - duas unidades da Sadia e três da Perdigão, informou o fiscal.

As diárias do técnico russo são pagas pela iniciativa privada brasileira, de acordo com a superintendência. "A liberação é feita pelo técnico e não por uma empresa", disse Scheffer. Há comentários de que a Welby do Brasil, que pertence a Wladimir Prestes, filho de Luís Carlos Prestes, seria o responsável pela liberação.

Antes da inspeção feita por técnicos da Rússia, fiscais do ministério avaliam a carga e emitem o certificado para exportação. Essa emissão pode ser feita nos frigoríficos, nos entrepostos certificados ou na operação chamada de "porão de navio", que é a transposição das cargas dos caminhões para as embarcações, explicou Scheffer. "No frigorífico, o fiscal faz o acompanhamento produtivo e, no fim, faz a certificação", afirmou ele.

O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Camardelli, afirmou que o Ministério da Agricultura da Rússia autorizou a exportação de carnes estocadas provenientes de gado abatido antes do embargo. Por isso as vendas para a Rússia continuaram subindo.

Ele nega o pagamento de propina ou exportação debaixo do pano para a Rússia. Segundo ele, a única taxa paga é a de US$ 14,50 para os veterinários russos, que foi negociada com o governo brasileiro e é legal. "Toda exportação de carne do Brasil para a Rússia é regular." A Rússia é o maior importador de carne do Brasil.