Título: Usineiros confirmam: não dá para manter acordo de janeiro
Autor: Fabíola Salvador e Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Economia & Negócios, p. B2

O presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, confirmou, ontem, em São Paulo, que não será mais possível para o setor sucroalcooleiro manter o acordo com o governo, que em janeiro limitou o preço do álcool combustível a R$ 1,05 por litro.

Para Carvalho, além de o cenário interno em janeiro ser diferente do atual, a alta dos preços do álcool no mercado internacional também contribui para a alta das cotações. "O atual preço do álcool combustível no mercado externo é de até US$ 580 por metro cúbico, o equivalente a R$ 1,15 por litro." Carvalho diz que o setor tem de ser regido pela lei de oferta e demanda e, neste momento, a procura está maior que a oferta.

Segundo Carvalho, a decisão do governo de reduzir a mistura de 25% para 20% é legítima à medida que existe um mecanismo para isso. De acordo com ele, a redução da porcentagem de anidro na gasolina elevará a oferta no mercado interno, mas o executivo não garante que os preços voltem a R$ 1,05.

De acordo com o diretor técnico da Unica, Antonio Pádua Rodrigues, os preços do álcool dificilmente ficarão no R$ 1,07 por litro da semana passada. Rodrigues lembra que as distribuidoras não querem correr o risco de ficar sem álcool em março e abril, e por isso estão correndo para comprar o produto, o que está incentivando a alta. O presidente da Unica garante, contudo, que o setor está se esforçando para garantir o abastecimento.

A safra do Centro-Sul deve começar em 1º de março, com o início da colheita da Usina Cocamar, no Paraná. Além disso, ele disse que o setor está tentando adiar as exportações de álcool de março e abril - que somam 100 milhões de litros - para a época de safra.

"Elas seriam perto de 200 milhões de litros, mas conseguimos reverter muitas vendas", disse Rodrigues. O diretor destaca que os Estados Unidos têm sido o principal comprador de álcool combustível do Brasil.

O usineiro José Pessoa, do Grupo José Pessoa, afirmou que o setor está investindo para aumentar a produção e atender à demanda de álcool combustível. Segundo ele, na safra 2005/06, foi produzido 1 bilhão de litros a mais que na safra anterior, em detrimento do crescimento da produção de açúcar. Porém, o volume não foi suficiente por causa do crescimento da demanda provocado pelos carros bicombustível.

Carvalho diz que é necessário um crescimento anual de 1,5 bilhão de litros por ano para que a demanda seja plenamente atendida. Em 2006, quatro usinas vão entrar em funcionamento, além de outras cinco que estão sendo recuperadas. Em 2007, a expectativa é de que 25 novas usinas entrem em operação.

O presidente da Câmara Setorial de Açúcar e Álcool, Luís Carlos Corrêa de Carvalho, disse ontem que, se o governo reduziu o índice de mistura do álcool anidro na gasolina para regular os preços no mercado, não terá resultado. Segundo ele, o volume a ser economizado com a medida é muito pequeno para influenciar no consumo e com isso frear a demanda forçando uma queda de preço.

Para Carvalho, a medida resultará em economia de 100 milhões de litros de álcool ao mês, volume insuficiente para atender a 10% da frota nacional, conforme o consumo de janeiro, que foi de 1,1 bilhão de litros.