Título: 'Álcool, infelizmente', lamenta motorista
Autor: Fabíola Salvador e Leonardo Goy
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Economia & Negócios, p. B2

"É a álcool sim, infelizmente", lamentou o comerciante Roberto Mian ao responder sobre qual combustível usava em seu Opala 88. "Há seis meses, quando comprei, o preço estava na casa dos centavos. Agora, gasto R$ 120 pra encher o tanque."

Mian comprou o carro para substituir um outro, também a álcool. "Tinha a vantagem de ser 6 cilindros e usar combustível barato. Agora, fico com ele por causa dos cilindros, que deixam o carro mais forte e estável para a estrada."

Mas o comerciante não pensa em comprar um carro a gasolina. "Com os últimos acontecimentos, não importa se é álcool ou gasolina. Hoje não existe mais combustível barato."

Após a decisão de reduzir a parcela de álcool na gasolina, ela também deve ficar mais cara. A alternativa para evitar esse aumento para o consumidor final deve passar pela desoneração da Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (Cide) sobre os 5% de gasolina A que vão substituir a fração de álcool retirada.

O presidente da Federação Nacional dos Revendedores de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Gil Siuffo, considera que esta é a única maneira de brecar um reajuste imediato de R$ 0,056 no litro da gasolina vendida pelos postos. "Com certeza o governo não vai cobrar . Cide para esta parcela de gasolina. Seria uma burrice sem tamanho."

Ele lembrou que hoje o litro da gasolina A custa, na refinaria, R$ 1,02, enquanto o álcool está sendo comprado entre R$ 1,08 e R$ 1,10. "O álcool anidro está puxando para cima o preço da gasolina. Sua retirada não deve afetar em absolutamente nada o preço para o consumidor. Nem um centavo A não ser que se cobre a Cide, mas acho que essa hipótese não existe."

Siuffo diz que em dezembro a Fecombustíveis apresentou ao governo a proposta de reduzir a parcela do álcool na composição da gasolina como uma forma de frear aumentos do álcool. "O governo fez uma barbeiragem. Não quis resolver o problema de imediato."

Segundo ele, o acréscimo de 100 milhões de litros de álcool por mês no estoque disponível no mercado, se não garantir a queda no preço do produto, pelo menos vai inibir os aumentos.

Para Siuffo, uma forma de garantir um maior controle no preço é retirar o álcool do âmbito do Ministério da Agricultura e transferi-lo para o de Minas e Energia. "O álcool já faz parte da matriz energética. Não faz sentido o Ministério da Agricultura, que não entende nada de energia, estar envolvido na questão."