Título: Contas externas voltam a ter déficit
Autor: Isabel Sobral e Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Um expressivo aumento das remessas de dólares das empresas para o exterior levou a conta de transações correntes do País, onde são contabilizadas as operações comerciais e de serviços com outros países, a apresentar déficit de US$ 452 milhões em janeiro. O saldo negativo interrompeu a seqüência de resultados positivos desde dezembro de 2004.

De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, a valorização do real em relação ao dólar incentivou as multinacionais a intensificar o envio dos lucros obtidos no País às matrizes. "Isso também reflete um aumento de rentabilidade das empresas", disse Lopes. O déficit de janeiro foi o maior desde abril de 2004, quando a conta foi negativa em US$ 754 milhões.

Os dados divulgados ontem pelo BC mostram que as remessas de lucros e dividendos pelas empresas somaram US$ 1,540 bilhão.

Para Lopes, o saldo negativo não significa reversão na trajetória das contas externas. "As exportações brasileiras continuam muito bem, o que dá a garantia de que o comportamento está dentro do esperado."

Mas ele admitiu que as remessas no mês passado ficaram um pouco acima do projetado pelo BC, o que impediu que a conta de transações correntes fechasse com superávit. O resultado também ficou acima das previsões dos analistas do mercado.

CAPTAÇÕES

Mesmo com o déficit em janeiro, o País continuou recebendo uma enxurrada de dólares por causa do bom resultado da balança comercial - que teve superávit de US$ 2,844 bilhões - e das operações de captação de recursos no exterior.

Várias empresas aproveitam as condições favoráveis do mercado internacional para renovar empréstimos externos. Em janeiro, esses fatores ajudaram o fluxo cambial (dado que computa a entrada e saída de divisas do País) a apresentar resultado positivo de US$ 1,9 bilhão. Em fevereiro, até a última sexta-feira, a entrada de dólares acumulou US$ 5,3 bilhões.

Os investimentos estrangeiros diretos no País em janeiro também surpreenderam. Eles chegaram a US$ 1,5 bilhão em janeiro e devem atingir a marca de US$ 1 bilhão neste mês, prevê Lopes. Ele ressaltou que esse dado demonstra a confiança dos investidores estrangeiros no País. Até sexta-feira, entraram US$ 770 milhões em investimentos externos. No período de 12 meses encerrado em janeiro, os investimentos estrangeiros no Brasil somaram US$ 15,47 bilhões. Em 2006, projeta o BC, devem totalizar US$ 16 bilhões.

Apesar do dado negativo de janeiro, nos 12 meses encerrados no mês passado o saldo das transações correntes continuou positivo, acumulando US$ 12,94 bilhões. Mas houve redução em relação ao resultado de janeiro a dezembro de 2005, de US$ 14,199 bilhões. Em termos de proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o superávit anual caiu de 1,79%, em dezembro, para 1,62% em janeiro. Segundo Lopes, o BC espera que em fevereiro as contas externas fiquem mais "próximas do equilíbrio". A projeção para 2006 é de superávit de US$ 6 bilhões na conta de transações correntes.