Título: Para Meirelles, 2005 foi um 'ano de ajuste'
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/02/2006, Economia & Negócios, p. B5

Um repique da inflação, aliado a "fatores de ordem política", fizeram de 2005 um "ano de ajuste", ou seja, um período de menor crescimento econômico. Foi o que disse ontem o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, em audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

O resultado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) de 2005 deverá ser divulgado esta semana. Será menor do que os 4,94% de 2004, o que fortalecerá as críticas à política econômica e aos altos juros da economia brasileira. Meirelles, porém, insiste em dizer que a direção escolhida pelo governo está correta.

RESPOSTAS

Foi o que ele fez nas três horas em que esteve na Câmara, durante as quais seis deputados fizeram basicamente duas perguntas: por que a economia do Brasil cresce tão pouco e por que as taxas de juros no Brasil são as mais altas do mundo.

"Sobre por que a taxa de juros é tão alta, eu só posso fazer uma afirmativa", disse Meirelles, respondendo a uma pergunta do deputado Osório Adriano (PFL-DF). "Não é porque o Banco Central quer."

Meirelles explicou que não bastaria ao Banco Central, de forma voluntarista, baixar os juros básicos da economia (a taxa Selic). "Se fizéssemos isso, em pouco tempo teríamos um surto inflacionário", afirmou.

Segundo o presidente do BC, o que determina o ritmo da economia são os juros de mercado, que são apenas influenciados pela Selic.

Além disso, afirmou Meirelles, a taxa de juros reflete uma série de dados econômicos, como a política fiscal e o cenário externo.

Uma taxa fixada de forma artificial pelo governo, descasada dessa realidade, não conseguiria influenciar a taxa de mercado. "A boa notícia é que a taxa de juros está caindo", disse o presidente do BC.

Ele insistiu que a chave para um crescimento mais elevado está no "consistente cumprimento das metas de inflação".

INFLAÇÃO

Para convencer os deputados, Meirelles apresentou dados de oito países, mostrando que há uma coincidência entre inflação baixa e crescimento alto.

Entre 1999 e 2004, a China cresceu 9,3% ao ano na média, com uma inflação média de 5,3%. No mesmo período, o Brasil cresceu 2% com uma inflação média de 146,3%.

Questionado pelo deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) sobre por que, tendo a inflação sob controle há cerca de 12 anos, o Brasil prossegue crescendo tão pouco, Meirelles explicou que a estabilidade de preços é uma condição necessária, mas não suficiente, para o crescimento.

RUMO CERTO

"É como eu dizer que a boa saúde é importante para o sucesso na política", comparou. Ele disse que um político pode ter excelente saúde, ser um atleta, mas isso não lhe garante a vitória nas urnas.

"O crescimento do Brasil tem sido mais baixo do que a média dos países emergentes há muitos anos", comentou Meirelles, já se antecipando às críticas sobre o resultado de 2005.

"O importante é que a taxa está aumentando, o que significa que estamos na direção correta." Ele acrescentou que, em 2006, a economia já mostra que está em recuperação. O governo espera um crescimento de 4% este ano.