Título: TVs e teles disputam receita de nova tecnologia
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Economia & Negócios, p. B9

Ganhos vão surgir com o padrão digital e a convergência entre televisão, internet e telefonia

Emissoras de TV e empresas de telefonia deixaram evidente ontem, durante seminário sobre políticas de telecomunicações, suas divergências em relação à transmissão de programas por novos meios, como o celular. A disputa se concentra principalmente em torno de uma nova receita, que surgirá com a TV digital e a convergência entre televisão, internet e telefonia. Um exemplo disso será a venda, pelas telefônicas, de pacotes de programação dirigidos a públicos específicos, como já ocorre na TV a cabo.

O presidente da Bandeirantes, João Carlos Saad, disse que a diferença entre os setores de radiodifusão e de telefonia é que o primeiro movimenta 7% da receita desse mercado, enquanto as operadoras detêm 93% da receita. ¿Nosso negócio é anônimo. Não sei quem está assistindo e entrego para o telespectador gratuitamente.¿ Segundo ele, a receita das TVs está lastreada na publicidade e não há cobrança pelo serviço como na telefonia.

O presidente da operadora Oi, do Grupo Telemar, Luiz Falco, rebateu dizendo que as empresas de telefonia também têm 93% do investimento feito no Brasil, onde foram aplicados R$ 150 bilhões nos últimos anos. ¿Pagamos 44% de imposto, enquanto a mídia paga 15%.¿ Falco disse que tanto o mercado como o cliente já nasceram convergidos. ¿Não nasceu metade voz, metade dados, metade novela.¿

Falco é favorável à criação de uma legislação para o setor com a TV digital e com a nova Lei de Comunicação de Massa que não amarre o mercado. ¿Se quisermos regular o mercado, vamos ficar para trás.¿ Ele previu que no fim do ano serão 110 milhões de celulares no Brasil. ¿Juntos, podemos ganhar muito dinheiro.¿

As emissoras de TV querem preservar o domínio que detêm sobre o transporte e a distribuição do conteúdo. ¿Queremos nosso carro próprio. Precisamos do nosso fusca¿, disse o vice-presidente de Relações Institucionais da Globo, Evandro Guimarães.

Antes, o vice presidente de Assuntos Regulatórios da Embratel, Luiz Tito Cerasoli, havia chamado atenção para o fato de que é no transporte dos sinais que pode surgir o monopólio, ou seja, na estrada por onde trafegam os produtos. E, se ela ficar restrita a um segmento, os produtos não chegam aos clientes.

Segundo Guimarães, a recepção da imagem será feita pelo aparelho celular e não pelo serviço de telefonia móvel. ¿É o desgraçadinho do celular que receberá a TV digital posta no ar pelas emissoras que têm diploma concedido pelo Executivo, com contratos claros.¿

As emissoras de TV usam a Constituição como argumento para que as empresas de telefonia não façam transmissão de conteúdo. O artigo 222 estabelece limite de 30% de participação de capital estrangeiro nas empresas de radiodifusão e as telefônicas são, em sua maioria, controladas por estrangeiros.

Mas, segundo o presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, as empresas de telefonia não querem fazer radiodifusão e também, ¿em princípio¿, não querem produzir conteúdo. ¿Estão misturando estações. Nosso negócio não é radiodifusão. Queremos distribuir o conteúdo que os outros fazem. Não queremos fazer novela.¿