Título: Foco no país vizinho pode abrir mercado brasileiro
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Avaliação é de que embargos à carne argentina vão obrigar importadores a comprar do Brasil

O mercado acredita que o foco de febre aftosa que atingiu 70 animais na Região Nordeste da Argentina irá acelerar a flexibilização dos embargos impostos à carne bovina do Brasil. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) acredita que países como Argélia, Rússia e Chile serão os primeiros a anunciar o abrandamento do embargo.

Ontem, autoridades do Chile admitiram que podem flexibilizar o o bloqueio à carne brasileira. Missões do governo já tentavam liberar a exportação de alguns Estados junto a estes países. Hoje, 56 países, incluindo as 25 nações da União Européia, mantêm embargo total ou parcial à carne brasileira. Segundo Antônio Jorge Camardelli, diretor executivo da Abiec, o foco na Argentina demonstra como os controles sanitários na Região Central da América do Sul são precários.

O frigorífico Friboi, maior exportador brasileiro de carne bovina, também espera o recuo do mercado internacional. Segundo Sérgio Longo, diretor financeiro do Grupo Friboi, o embargo à carne argentina, movimento que se intensificou ontem, reduzirá sensivelmente a oferta mundial de carne in natura. A Argentina é o terceiro maior fornecedor de carne bovina, atrás da Austrália e do Brasil.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) lembrou que a saída da Argentina do mercado mundial provocará o aumento da cotação internacional do produto e que o Brasil poderá ganhar o mercado do país vizinho.

O vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro, diz que o equilíbrio entre oferta e demanda no setor é frágil, e que não há alternativas de fornecedores no mundo. Nesse quadro, com o problema enfrentado pela Argentina os preços deverão subir. Castro afirma que os Estados Unidos e o Canadá enfrentam problemas gerados pela doença da vaca louca, e a Austrália sofreu com o período de seca. "Por falta de opção, haverá reflexo econômico positivo", assinala.

GANHO RUIM

Embora as análises conduzam a uma avaliação favorável ao Brasil, neste momento, é unânime a ponderação de que o ressurgimento da aftosa na América do Sul é ruim para todos os países da região no longo prazo.

Apesar do impacto econômico positivo, o vice-presidente da AEB alerta que a crise da aftosa no Brasil e agora na Argentina acabam afetando o Continente frente aos exportadores, que podem passar a fazer exigências adicionais para comprar o produto da região. Camardelli, da Abiec, complementa: "É um benefício momentâneo. A imagem que se projeta é a de fragilidade".

Sérgio De Zen, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), organização que faz o acompanhamento diário do mercado de boi no País, acha que a recuperação de mercados pode ser acelerada, mas que isso não é motivos para comemorações. "A crise da aftosa na Argentina pode, num primeiro momento, favorecer a suspensão do embargo por alguns países, mas no longo prazo este problema não beneficia ninguém", avalia De Zen.