Título: Brasil amplia veto à carne argentina
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Pressão faz governo suspender importação de carne com osso e animais suscetíveis à aftosa de todo o país

Para evitar a contaminação do rebanho brasileiro com aftosa, o Ministério da Agricultura cedeu à pressão dos pecuaristas e suspendeu ontem a importação de carne com osso e animais vivos suscetíveis à aftosa (com casco dividido, como caprinos, ovinos, bubalinos, suínos e bovinos) de toda a Argentina.

A suspensão é temporária e foi adotada em resposta ao foco de febre aftosa descoberto no município de San Luis del Palmar, na Província de Corrientes, nordeste da Argentina.

Também está proibida a importação de sêmen, carne não maturada e outros produtos não submetidos a processos de destruição do vírus. As restrições para os pecuaristas da província de Corrientes incluem a carne sem osso, maturada ou industrializada.

Na quarta-feira, depois de muita hesitação, o ministério já havia anunciado o embargo a animais vivos e a subprodutos oriundos apenas do município de San Luis del Palmar. Mas a medida foi considerada branda pelos pecuaristas e o tratamento dispensado à Argentina, excessivamente cauteloso.

Ontem, o embargo foi ampliado, como pediam os pecuaristas, por causa do risco sanitário, principalmente depois do surgimento de vários casos da doença no Brasil. Com exceção de Corrientes, as importações de carne sem osso, maturada ou industrializada da Argentina estão permitidas, pois não há risco de carregarem o vírus.

De janeiro a dezembro de 2005, o Brasil gastou US$ 35,7 milhões com a importação de todos os tipos de carne da Argentina. Desse total, US$ 30,5 milhões foram gastos com compras de carne bovina in natura e outros US$ 4 milhões, com miúdos. A carne industrializada custou só US$ 520. "Os cortes vindos da Argentina são extremamente valorizados", lembrou o diretor da Secretaria de Relações Internacionais do ministério, Ricardo Cotta.

Segundo o secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Alves Maciel, o ministério comunicou a decisão, que vigora desde ontem, à Embaixada do Brasil em Buenos Aires e ao Serviço Nacional de Sanidade Agroalimentícia (Senasa) da Argentina. Ele lembrou que haverá ampliação da vigilância em cada Estado e reforço na fronteira com a Argentina, trabalho que ficará a cargo das superintendências federais de agricultura.

Maciel não soube dizer quantos técnicos farão esse trabalho. "A fronteira sempre preocupa e a defesa sanitária deveria ser considerada assunto de segurança nacional", ressaltou. Ele observou que os Estados não podem adotar medidas adicionais às determinações do governo federal. O Rio Grande do Sul quer barrar qualquer importação de carne e de animais vivos, além de alguns vegetais que poderiam carregar o vírus.

Em março, a fiscalização ganhará o reforço do monitoramento por satélite nas fronteiras do Acre, de Rondônia, de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com outros países. O objetivo é evitar o trânsito irregular de animais e controlar o fluxo dos rebanhos num raio de 25 quilômetros a partir da fronteira.