Título: Governo recompra US$ 2,3 bilhões em títulos da dívida externa
Autor: Adriana Fernandes ,Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

Programa, iniciado na surdina, deve alongar os prazos do endividamento e melhorar a avaliação do risco país

Confirmando rumores no mercado internacional, o governo brasileiro comunicou ontem oficialmente que deu início a um programa de recompra de títulos da dívida externa. Já foram adquiridos até agora US$ 2,3 bilhões de títulos. O alvo do governo é recomprar papéis com prazo de vencimento até 2010 (dívida de curto prazo) e os famosos bônus bradies, originados da reestruturação da dívida externa da década de 90. O total de títulos com potencial de recompra, que estão pulverizados no mercado internacional, é hoje de cerca de US$ 20 bilhões.

O programa começou silenciosamente em janeiro e só ontem foi divulgado pelo Tesouro Nacional e pelo Banco Central (BC). O anúncio deve ampliar a queda do risco país, que vem em ritmo declinante. Com a recompra, os preços dos títulos brasileiros devem subir.

As operações de recompra estão sendo conduzidas pelo BC, que foi contratado pelo Tesouro para comprar os papéis no mercado secundário. Os dólares para a operação estão saindo das reservas internacionais administradas pelo BC. O Tesouro transfere reais para adquirir os dólares das reservas e não vai comprar dólares em mercado para honrar o pagamento dessa recompra.

Ao anunciarem a medida, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e o diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, não quiseram fazer avaliação sobre o impacto do programa na taxa de câmbio. "O mercado dirá", disse Azevedo. Segundo Levy, são muitos os fatores que influenciam o câmbio.

O secretário do Tesouro informou que, dos US$ 2,3 bilhões de títulos já recomprados até ontem, US$ 773,9 milhões já foram cancelados. Ou seja, abatidos do passivo total da dívida externa. Levy explicou que há uma defasagem entre a data de compra no mercado e o cancelamento de títulos.

O diretor do BC esclareceu que não há uma meta específica para o volume de recompra. O programa será implementado gradualmente, de acordo com as condições de mercado pelo menos até 31 de dezembro, data do fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O secretário do Tesouro ressaltou que o objetivo da medida é aproveitar o momento favorável para construir uma base segura em 2007 e nos anos seguintes. Levy adiantou que o Tesouro pode ampliar o volume de títulos recomprados no mercado externo.

"Vai depender da entrada de dólares nas reservas internacionais do País.Temos um campo grande de títulos que potencialmente poderíamos comprar para abater da dívida esta parte com vencimento num horizonte de curto prazo e, dessa forma, reduzindo muito o risco de curto e médio prazos da dívida pública", afirmou Levy.

Ao ser questionado se essa operação poderia ajudar o País a atingir o grau de investimento na classificação das agências de risco, o secretário afirmou que, se houver uma melhora no perfil de vencimentos dos títulos nos próximos dois ou três anos, isso contribui para que o Brasil possa alcançar esse grau. "Se essa segurança se estende de maneira concreta em 2007, a percepção de risco melhora. Agora, se vai se traduzir na obtenção do investment grade, vamos esperar para ver."