Título: haiti: Prevál pode vencer no 1º turno
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Internacional, p. A16

Apuração indica vitória folgada de ex-presidente na eleição no Haiti, mas rivais ainda apostam no 2.º turno

O ex-presidente René García Préval, 63 anos, que liderou desde o começo as sondagens sobre intenção de votos para presidente do Haiti, está confirmando o favoritismo. Antes mesmo da divulgação de resultados parciais das eleições de terça-feira, não se tem mais nenhuma dúvida de que ele será eleito com folga, provavelmente já no primeiro turno. A confiança na vitória é tanta que os coordenadores de sua campanha prometeram começar a comemorar hoje, se o Conselho Eleitoral Provisório (CEP) não divulgasse logo a apuração.

"Préval conseguiu mais de 80% em muitas urnas e nunca menos de 30% nas seções que divulgaram seus números na capital", disse o empresário Marcel Duret, ex-embaixador do Haiti no Japão, onde serviu por 12 anos, de 1991 a 2003, durante os dois governos de Jean Bertrand Aristide e o de Préval. Eleitor do movimento Esperança, que teve o apoio do Família Lavalas (o partido de Aristide), ele não tem dúvida de que seu candidato será proclamado presidente nas próximas horas.

Um dos principais adversários de Préval, o industrial Charles Henri Baker, único branco entre os 33 candidatos a presidente, ainda aposta no segundo turno. Sua assessoria reconhece a vantagem de Préval nas urnas, mas ele torce para que, contra todos os prognósticos, o professor e também ex-presidente Leslie Manigat ultrapasse o favorito na contagem. "Nesse caso, eu disputaria com Manigat e não com Préval", disse Baker, garantindo que continua no páreo.

Fora da realidade? Baker jura que não. Seu argumento é que, dois dias após as eleições, centenas de seções eleitorais ainda apuravam os votos - o que, em sua opinião, poderia possibilitar uma guinada na classificação dos favoritos. "Estou otimista", afirmou o candidato, segundo colocado nas pesquisas na semana passada. No domingo, ele garantia que seria eleito já no primeiro turno.

Serge Gilles, que disputou a presidência pela Fusão, uma coligação social-democrata, que sempre lutou contra a ditadura no Haiti, prevê e lamenta a vitória de Préval. "A oposição não conseguiu se unir, os haitianos votaram no status quo", disse o socialista ao Estado, ontem de manhã. Em sua opinião, Préval será presidente, mas não terá o apoio do Parlamento, de 30 senadores e 99 deputados, também eleito na terça.

Na hipótese, já quase remota, do segundo turno, Gilles promete apoiar Manigat, o único candidato que, conforme acredita, seria capaz de virar o jogo contra Préval, se unisse outras forças em torno de seu nome. Uma coligação de oposição concentraria fogo, nas semanas que faltam para 19 de março, no argumento de que o candidato da Esperança/Lavalas representa a volta aos anos 90.

Préval tem a seu favor o fato de, num período de instabilidade, ter sido o único presidente do país que foi eleito e cumpriu até o fim o mandato. É um político moderado que parece estar consciente dos desafios que terá de enfrentar. Préval condena a violência e a criminalidade. Apesar disso, as gangues que dominam Cité Soleil, bairro-favela de 250 mil moradores e 55 mil eleitores, votaram nele.