Título: Presidente diz que não crê em ´conflito de civilizações
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Nacional, p. A13

Num país que conseguiu se desviar do islamismo radical, a Argélia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que não crê em um 'conflito de civilizações', em uma clara referência às teses em voga sobre o choque entre o Ocidente e o Oriente. Enfatizou ainda que o terrorismo 'é um mal que deve ser combatido com energia e tenacidade'.

Como alternativas, Lula propôs a crença na 'tolerância e na justiça social' e a tarefa de convencer 'os poderosos do mundo' de que seria mais barato e eficaz combater a pobreza do que 'construir arsenais milionários' que só agravam a violência.

O discurso de tom pacifista foi proferido durante o almoço que lhe foi oferecido pelo presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, no Palácio do Povo, construção mourisca que abrigava a antiga sede de verão do governo colonial francês em Argel.

Bouteflika, que discursara pouco antes, tinha preferido marcar posições caras ao mundo árabe. Destacara sua preocupação com o Oriente Médio ao defender a retirada de Israel de regiões do Líbano e da Síria, o restabelecimento da soberania do povo do Iraque e a criação de um Estado independente e soberano palestino, com capital em Jerusalém - sem mencionar o direito à existência do Estado de Israel, que é reconhecido pelo Brasil.

O presidente argelino ainda observou que 'infelizmente existem outras situações que nos preocupam por serem portadoras de graves ameaças à paz e à segurança internacionais'. Mas o colega de Lula não mencionou a inquietação mundial com o programa nuclear do Irã.