Título: Mulher de Delúbio desiste de concorrer em SP
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Nacional, p. A12

Escândalo atinge até quem não teve relação direta com o mensalão

Fora da política desde julho do ano passado, quando renunciou à presidência do PT em meio à crise política, José Genoino diz que não participará da festa de aniversário do partido, na segunda-feira, por não ter dinheiro para comprar a passagem aérea de São Paulo a Brasília. "Nem telefone celular eu tenho mais. Sou pobre", afirma.

Aposentado como deputado federal desde agosto, Genoino recebe R$ 8,148 mil mensais brutos (menos de R$ 6 mil líquidos) e há sete meses trabalha com revisão de textos, no quarto dos fundos da casa onde mora há 20 anos, no Butantã. Em março, começará a dar aulas de História Política para dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo.

"Eu não tenho mais carne para dar aos leões. Estou no osso", diz o ex-presidente do PT, entre um cigarro e outro. Deprimido, Genoino ainda não decidiu se disputará uma vaga de deputado em outubro. Lembra que precisa avaliar o cenário político depois da conclusão das CPIs e, ainda, curar as feridas.

"Vou esperar a tempestade passar, porque tudo o que aconteceu me machucou muito. Eu nunca mexi com dinheiro do PT. Os empréstimos que assinei como avalista são legais e não cometi nenhum crime. Quebraram meu sigilo bancário, fiscal e telefônico e não encontraram nada. Então, o que têm contra mim?", pergunta o homem que conquistou cinco mandatos consecutivos na Câmara e foi o deputado mais votado do Brasil.

Alguns amigos também se foram. "Quando você não tem mandato, nem vento bate na porta", diz Genoino, cabelos mais brancos, sem conseguir esconder a mágoa.

As aulas que ele dará para 40 dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC vão durar seis meses, sempre aos sábados. O curso abordará a história brasileira de 1964 até hoje.Em 2005, o ex-presidente do PT foi convidado para uma conversa política com banqueiros, no Itaú-BBA. "São trabalhos eventuais que aparecem. Estou experimentando a vida como cidadão Genoino", comenta.

Questionado sobre o movimento deflagrado pelo PT para pedir a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele se recusa a responder. Sempre ressalvando que se trata de uma conversa - e não de uma entrevista -, é taxativo: "Não opino sobre o PT, o governo e nem sobre o presidente Lula."

No quarto de empregada transformado em escritório, Genoino também dá depoimentos para sua autobiografia, que está sendo escrita pela jornalista Denise Paraná. Uma de suas maiores mágoas é em relação à imprensa. "Eu vou me defender de todas as inverdades que disseram contra mim", jura. V. R. e M.C.Os efeitos da crise do mensalão sobre os petistas ainda estão longe do fim, e abateram até mesmo quem não teve relação direta com o escândalo. Ex-secretária municipal de Gestão Pública de São Paulo e mulher de Delúbio Soares, Mônica Valente preparava-se para disputar uma vaga na Assembléia Legislativa de São Paulo, mas desistiu da idéia. "Se não fosse a crise, ela teria boas chances de virar deputada", diz um dirigente petista. "Ela nunca dependeu do Delúbio para fazer política." Mas boa parte dos nomes citados durante as investigações ainda quer usar as eleições este ano para tentar se reabilitar.

Se escaparem da cassação, João Paulo Cunha, José Mentor e Professor Luizinho devem ser reeleitos deputados, avalia a cúpula do partido no Estado. Em Brasília, porém, até os companheiros acreditam que eles perderão o mandato. E os três já articulam os "sucessores".

Em acordo com o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, João Paulo deve apoiar a candidatura do ex-presidente da Ceagesp Walmir Pracidelli. O deputado estadual Vanderlei Siraque resiste, mas pode tentar uma vaga na Câmara para substituir Luizinho."Eu prefiro disputar a Assembléia, mas vamos analisar a conjuntura e tomar uma decisão coletiva", explica Siraque, professor com base eleitoral em Santo André, assim como Luizinho. Mentor tem se movimentado menos. Seu irmão, Antônio Mentor, é deputado estadual e ainda avalia se sai à reeleição ou a deputado federal.

Outro que já arregaçou as mangas para este ano eleitoral, conforme revelou o Estado, é o ex-assessor da Casa Civil e ex-secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno. Ele próprio tentaria uma vaga na Câmara, mas recuou. Agora, sem alarde, quer ajudar a eleger o vereador Edson Santos (deputado federal) e o ex-secretário de Fazenda Nelson Rocha (deputado estadual), entre outros integrantes do PT fluminense.

SALVAÇÃO

Funcionária pública ligada à área da saúde, Mônica Valente chegou ao partido por meio do movimento sindical, assim como o marido. É ela quem sustenta a casa hoje, com um cargo de assessora na primeira secretaria da Assembléia Legislativa. A depressão que tomou conta do ex-tesoureiro do PT no fim do ano passado começa a se dissipar, segundo o relato de amigos. "Ele vive enfurnado em casa, mas não está mais tão triste", explica um deles. "Ele acha que salvou o mundo (o PT) e tem orgulho disso."

Assim como brigou com unhas e dentes para evitar sua expulsão do PT, Delúbio tenta garantir na Justiça seu emprego como professor de matemática do Estado de Goiás. Seu salário era de R$ 1 mil, mas está suspenso há cerca de um ano. O governo já anunciou sua demissão, mas recuou diante dos apelos do advogado de Delúbio, Sebastião Ferreira Leite. Alegando cerceamento do direito de defesa, Leite conseguiu que o caso fosse encaminhado de volta à Procuradoria Geral do Estado, que havia recomendado a demissão no início de janeiro.

Leite sustenta que a secretária estadual de Educação, Eliana França, deveria ter sido ouvida como testemunha no processo de demissão. O advogado quer que o processo seja devolvido à Secretaria de Educação e pretende recorrer a outras instâncias para garantir o emprego de seu cliente.

Delúbio estava de licença do cargo de professor III desde 1985, "emprestado" para o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás. A licença expirou no dia 9 de fevereiro de 2005. Ele ficou ausente por mais de 30 dias consecutivos (110 no total), sem motivos justificados, razão da demissão.

Outro pivô do escândalo, o ex-secretário-geral Silvio Pereira divide seu tempo entre cuidar da filha pequena e tentar montar um negócio, em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo. Sua mulher, Débora, é funcionária da prefeitura de Osasco. A idéia original de Silvinho era montar uma pousada, com o dinheiro da venda do apartamento em São Paulo, mas já imagina agora lançar um restaurante.