Título: Nos EUA, prefeito troca eleição por economia
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2006, Nacional, p. A10

O prefeito de São Paulo, José Serra, disse ontem que desconhecia a declaração do governador de Minas, Aécio Neves, sobre a a possibilidade de o PSDB realizar prévias para escolher seu candidato à Presidência. Aécio admitiu a hipótese na quarta-feira, depois de encontro com o governador Geraldo Alckmin, que disputa com Serra a candidatura tucana ao Planalto.

A determinação de Serra de não falar sobre a eleição e "manter o foco na Prefeitura" levou-o a armar uma viagem discreta à capital americana, onde deve permanecer até amanhã. Em contraste, Alckmin trará a campanha a Washington em duas semanas, com uma agenda de candidato montada em torno da cerimônia de assinatura de um empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dia 23.

Apesar da discrição, Serra fez questão de abordar temas nacionais. "Estou vendo um oba-oba na imprensa sobre a proposta do governo de eliminar o Imposto de Renda que investidores estrangeiros pagam em aplicações em papéis da dívida pública", disse, tomando a iniciativa de introduzir o assunto, durante entrevista ao Estado.

"A intenção é boa. O objetivo é aumentar o prazo das aplicações e forçar o alongamento da dívida, o que teria impacto sobre os juros", afirmou. "Mas a idéia precisa ser mais debatida, porque tem implicações que não estão sendo consideradas."

Serra vê dois problemas. "Se eliminar o IR, hoje de 15%, sobre os investimentos de estrangeiros em renda fixa e o mantiver para os nacionais, criará um incentivo para a fuga de capital dos brasileiros, que tenderão a tirar o dinheiro do País para reinvesti-lo de fora para dentro e se beneficiar da isenção. O governo precisa explicar o que fará para impedir essa tendência, pois ela criaria uma situação meio absurda de ter a dívida interna financiada de fora", argumentou.

O segundo problema, para ele, é que ao isentar o capital americano, por exemplo, o governo criará um incentivo na ponta brasileira, mas pode provocar o efeito contrário na ponta americana. "Como não existe acordo de não bitributação entre Brasil e EUA, se você reduzir ou eliminar o imposto que o americano paga no Brasil, ele deixará de poder descontar esse valor do imposto que deve nos EUA - e passará a pagar mais ao Fisco americano para investir no Brasil", disse. "Temos de perguntar qual é a vantagem disso do ponto de vista brasileiro. Acho que essa proposta só deveria ser levada adiante no contexto de um acordo de não bitributação entre Brasil e EUA."

E o que tudo isso tem a ver com a Prefeitura? "São Paulo é uma cidade nacional", responde Serra.