Título: Condenado e sem dinheiro, José trabalha em obra
Autor: Laura Diniz
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Metrópole, p. C1

Com 18 anos e uma cabeça de vento, José foi apanhado pichando um muro no pontilhão de Osasco, em 2001. Foi preso por vandalismo. Passou a noite na delegacia e, no dia seguinte, um advogado o tirou da cadeia. Recebeu uma pena alternativa. O juiz lhe perguntou se preferia pagar a dívida com cestas básicas ou prestando serviços à comunidade. Sem um centavo, José escolheu a segunda opção.

¿Se o juiz confia que a pena alternativa vai ser aplicada, ele decide nesse sentido. Mas isso está longe da realidade de São Paulo¿, diz o juiz-corregedor dos presídios da Capital, Carlos Fonseca Monnerat. Daí a importância da CPA, para fiscalizar e traçar o perfil psicossocial do réu. ¿Assim, pode-se adequar a pena ao perfil. O empresário pode lidar com o computador de um posto de saúde. O cabeleireiro pode cortar cabelo numa praça pública. Enfim, tarefas úteis e que não humilhem.¿

Bem, José foi condenado a trabalhar durante seis meses, uma vez por semana, seis horas por dia, como servente de pedreiro. Não era a praia dele. Office-boy, nunca tinha pegado um tijolo para levantar uma parede. Então, foi duas, três vezes, e começou a faltar ao serviço. ¿Me deu preguiça, sei lá, é meio puxado¿, conta. Ele sabia que havia fiscalização, mas resolveu arriscar para ver se colava. Não colou. Foi chamado. Como castigo, vai ter de trabalhar seis meses inteiros para quitar sua dívida com a Justiça.

Segundo a Secretaria de Administração Penitenciária, 19 centrais no Estado acompanham 4.541 pessoas que prestam serviço à comunidade.

José está agora com 21 anos e arranjou emprego temporário, como auxiliar de produção, numa fábrica de sacolas. Trabalha de segunda a sábado. Sobrou o domingo e é nesse dia que ele cumpre a sua pena.