Título: 'Combatemos a OMC e temos bons resultados'
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Nacional, p. A6

O agroecologista Peter Rossete é um dos organizadores da conferência da sociedade civil que se realiza paralelamente ao evento da FAO em Porto Alegre. Co-diretor da Food First, ONG americana que atua em associação com a Via Campesina na defesa da reforma agrária e no combate às sementes transgênicas, ele defende, na entrevista abaixo, a redistribuição de terras como forma de combater a concentração de renda e defender o meio ambiente.

Poderia dizer qual o objetivo deste fórum paralelo que o senhor ajudou a organizar?

Queremos mostrar uma visão alternativa de reforma agrária a partir dos movimentos de camponeses, povos indígenas e trabalhadores rurais.

O senhor poderia definir genericamente essa visão alternativa?

O princípio básico é o da soberania alimentar, baseada na produção camponesa. Queremos que a FAO estimule a reforma agrária tendo como objetivo a produção de alimentos para os os mercados nacionais e locais. Também queremos mais estímulos para modelos alternativos de produção, com redução do uso de agrotóxicos e o abandono dos transgênicos.

O debate da reforma agrária ficou ultrapassado diante da expansão do agronegócio?

O pano de fundo desse debate ainda é a necessidade de se distribuir melhor as riquezas, reverter o processo de concentração econômica. A reforma agrária é uma forma de se fazer isso, desde que esteja ligada a outras políticas, como a elevação dos salários dos trabalhadores urbanos, para que possam comprar alimentos.

Não acha que a FAO perdeu importância diante da ascensão de outros organismos globais, como a OMC?

Nós combatemos a OMC e acho que nossas lutas estão tendo bons resultados. Nas últimas seis reuniões ministeriais daquele organismo, não se conseguiu chegar a um consenso sobre a questão da agricultura.

Não acha obscurantista lutar contra o uso de sementes geneticamente modificadas?

O progresso científico não é unidimensional nem unidirecional. Existem vários caminhos à nossa disposição, cabendo à sociedade definir o mais conveniente. Esse debate não deve ficar restrito aos pequenos camponeses e aos latifundiários.