Título: Bolívia convoca Constituinte para julho
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Internacional, p. A13

O presidente boliviano, Evo Morales, ganhou sua primeira batalha no ambicioso projeto para reescrever a Constituição, após o Congresso aprovar no sábado a convocação da segunda Assembléia Constituinte da história do país.

Os bolivianos irão às urnas no dia 2 de julho para escolher os membros da Assembléia e votar também no referendo sobre maior autonomia regional. Os trabalhos da Constituinte devem começar no dia 6 de agosto e durarão, de acordo com a lei, no mínimo seis meses e no máximo um ano.

Evo formalizará amanhã a convocação das duas votações. "Aqui começa a revolução social e cultural, aqui começa a verdadeira mudança que espera o povo boliviano. O grande dia está chegando", afirmou Evo, elogiando o acordo inédito entre governistas e oposição.

Para conseguir a aprovação, o governo teve de modificar a proposta sobre a composição da Assembléia, após críticas de que ela seria usada para que a esquerda impusesse apenas a sua agenda.

As pequenas províncias do país também exigiram maior representação na Assembléia, que terá 225 assentos e que se reunirá na cidade de Sucre, onde foi declarada a independência do país em 1825.

Articulador do acordo no Congresso, o vice-presidente Alvaro Garcia afirmou que a Bolívia terá uma Carta "sem divisões e sem egoísmo."

Ainda não está claro quais serão as modificações feitas na Constituição, mas várias propostas já foram feitas. Grupos indígenas querem que a Assembléia mude o nome do país e os símbolos nacionais. A região de Chaco, rica em petróleo, quer se transformar na 10ª província da Bolívia, enquanto a província de Santa Cruz quer maior autonomia do governo central. O estabelecimento de uma Assembléia Constituinte têm sido uma das principais exigências dos grupos indígenas, que com suas ações de rua, foram responsáveis pela queda de dois governos nos últimos anos.

Evo, um índio aimará, ex-líder dos produtores de coca da região do Chapare, assumiu a presidência no dia 22 de janeiro após vencer as eleições de dezembro com 54% dos votos. Na ocasião, prometeu reverter 500 anos de discriminação contra a população indígena. Além da reforma da Constituição, o presidente boliviano quer também a nacionalização das indústrias de petróleo e gás do país.