Título: Demanda por papéis do Brasil será alta em 2006
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/03/2006, Economia & Negócios, p. B3

Os fundamentos da economia brasileira, o apetite dos investidores por risco e a valorização do real devem garantir um bom desempenho dos papéis brasileiros no mercado internacional em 2006, além de uma maior exposição dos bancos estrangeiros ao País. A avaliação é do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que hoje divulga seu relatório trimestral. Segundo o estudo, as emissões brasileiras em real deram à América Latina a liderança como a região emergente com o maior volume de emissões em moedas locais, com um volume quase quatro vezes superior ao da Ásia em 2005.

De acordo com o BIS, a tendência positiva registrada no Brasil ocorre também com os demais países emergentes. De acordo com a avaliação, os papéis dessas economias atingiram valores recordes no início de 2006. O Brasil e a Venezuela foram os dois principais beneficiários das emissões de bônus no exterior no final de 2005.

Para o BIS, essa situação positiva para os mercados emergentes ocorreu em grande parte graças à melhoria nos fundamentos macroeconômicos de vários países, criando um "entusiasmo dos investidores" pelos seus papéis. A melhora na posição externa das economias, as políticas monetárias e fiscais sólidas e sistemas financeiros mais estruturados teriam tornado os mercados emergentes mais "resistentes a choques", reduzindo o risco.

Não por acaso, o BIS lembra que tanto Brasil como Argentina aproveitaram para acumular reservas e pagar os empréstimos do Fundo Monetário Internacional em US$ 25 bilhões. Além disso, a Moody's aumentou o grau de investimento de 13 economias emergentes nos últimos 12 meses.

APETITE

O aumento do apetite por risco por parte dos investidores é outro fator importante. Segundo o BIS, houve uma "entrada massiva de capital estrangeiro" nos países emergentes nos últimos meses, com fluxo acima de US$ 160 bilhões em relação aos papéis da dívida. Tendência que, segundo o banco, será mantida.

O que também contribuiu para atrair os investidores foi a valorização das moedas dos mercados emergentes, entre eles o real. Conforme o BIS, os ganhos dos investidores em moeda local foram ampliados, diante de uma valorização média de mais de 2% das moedas dos países emergentes em relação ao dólar só em janeiro e fevereiro.

A América Latina, de acordo com os especialistas, foi a principal responsável por essa valorização. Em 2005, a região fechou contratos no valor de US$ 4,2 bilhões em moeda local, bem acima dos contratos de US$ 1,4 bilhão registrados na Ásia. Segundo o BIS, o Brasil tem sido o "ator principal" nessas iniciativas, com emissões em moeda nacional feitas especialmente pelo Bradesco e Banco Votorantim.

Outro aspecto positivo para foi a redução dos spreads para níveis inéditos, principalmente em relação aos papéis emitidos pela América Latina. Para o BIS, isso seria uma das provas de que a percepção de risco caiu em relação a esse grupo de países.

Diante desse cenário, os países emergentes aproveitaram as condições de financiamento durante 2005 e aumentaram a emissão de bônus em mais de 50%, batendo todo os recordes. As emissões ainda foram 120% maiores que a média nos últimos dez anos. O que impressiona o BIS é que muitos países já tinham atingido seus objetivos de emissões para 2005 e, alguns até cumpriram antecipadamente as metas para 2006. Mesmo assim, continuaram a emitir.

EXPOSIÇÃO

A situação favorável dos emergentes possibilitou maior exposição dos bancos estrangeiros ao Brasil. Os bancos somavam US$ 77,4 bilhões em créditos, operações e outros contratos com o País em dezembro de 2004. Em setembro de 2005, esse valor chegou a US$ 82 bilhões. No geral, os bancos internacionais acumularam uma exposição de US$ 156 bilhões ao mercado brasileiro em 2005.